30 setembro, 2005

Incêndios

Há semanas atrás, tudo o que bulia e tinha algum sítio onde se expressar, falava de incêndios, aviões, bombeiros, pirómanos, governantes, eu sei lá, era um diz-que-diz, um opinar cheio de certezas, pedidos de draconianos castigos para os prevaricadores, pediam-se as cabeças dos culpados, acusava-se tudo e todos, enfim, um regabofe.

Mas serenamente, como numa maré de comportamento anual. foram-se calando, e hoje em dia estão completamente silenciosos, numa confortável preia-mar, salvo um ou outro mais ecologista ou preocupado com o estado do País. Depois de tanto foguetório, o descanso!

Mas eis, que de supetão, novo incêndio irrompe, agora em zona chique, dita da da linha, e sem se entender muito bem porquê, leva consigo a vida de uma mãe e cinco filhos.

Os jornais e as televisões dão um relevo médio à notícia, o sr. presidente da Câmara debita um discurso chocho e pesaroso sobre o azar - pois não é que os desgraçados se iam mudar daqui a uns dias - a blogosfera dá uns soluços tímidos, e assim se encerra mais este incêndio.

Ninguém se lembrou de perguntar porque é que estes pobres de Job tiveram de morrer assim, na miséria, num País mais rico do que o deles, onde vieram talvez procurar a sobrevivência.

Sorte madrasta, que resolveu aliviar-lhes a pobreza definitivamente, fazendo-os no entanto penar no inferno das chamas, a eles, que já viviam um inferno de vida.

Desta vez a indignação não saiu à rua, não se vituperou o governo, nem tampouco o sr. presidente da Câmara lá do sítio, ninguém se interrogou se os bombeiros tinham meios, ou porque não terão chegado a tempo, ou porque é que tinham as chamas devorado aqueles seres!

Ainda não compreendi bem porquê.

Terá sido por serem pobres, terá sido por viverem em Cascais, terá sido por serem da Guiné?

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