24 outubro, 2005

Nem no fim-de-semana

Tenho fugido aos fins-de-semana, para ambientes menos opressivos, que me permitam espraiar o olhar sem que ele esbarre em edifícios depauperados, obras inacabadas ou simplesmente atentados ao mau gosto.

Levo comigo alguma música seleccionada que componha o ramalhete, e ala a caminho de locais mais despoluídos.

Mas, e há sempre um mas no meio de todas as histórias, inadvertidamente toquei numa tecla do auto-rádio, e irrompe a voz do António Sala(AS), em diálogo com o nosso presidente de Câmara, Rui Rio(RR)!

Irra, pensei eu com os meus botões, nem ao fim-de-semana, fechado numa carripana já com uns anitos em cima me safo, mas... e que está outro mas, o trânsito não me permitia facilidades e lá ía ouvindo a intervalos ( a antena já não é o que era, e o rádio também não) algumas frases que, não me admirando muito, me esclareciam que na rádio o jornalismo está pela hora da morte.

Não que eu entenda que o Sala pode ser chamado de jornalista, mas como entrevistava...

Rui Rio, muito à sua maneira lá ía debitando o seu discurso habitual, intercalado pelo seu riso zombeteiro omnipresente sempre que as perguntas não lhe agradam muito ou como pretexto para sair com tiradas de humor duvidoso.

Entre os silêncios e as audições, captei estas duas jóias de argumentação, que vou procurar transcrever o mais fielmente possível!

AS - Dizem que, consigo, o Porto vem perdendo notoriedade?
RR - Mas que notoriedade é que se perdeu?! O Porto alguma vez mandou no País? O Porto teve alguma vez notoriedade? Eu é que tornei o Porto notado, pois até consegui que se fizessem no Porto dois conselhos de ministros que tomaram diversas decisões benéficas para a região.

....

AS - E sobre cultura? Dizem que não liga muito à cultura. Costuma ir ao teatro?
RR - Por acaso não sou muito dado ao teatro, muito embora até já tenha feito teatro em novo. Mas não sou frequentador assíduo, até porque não posso. Quanto à cultura se estão a falar daquela que é feita por meia-dúzia de pessoas para apenas ser vista por outra meia-dúzia, francamente não apoio, pois acho que quem a quer fazer que a pague. Quanto a outro tipo... veja, eu até trouxe o La Feria ao Porto, pois estamos a tentar recuperar o Sá da Bandeira e essa vinda inscreveu-se no programa de reabilitação do teatro, aí sim... já apoio.


Não garanto a integralidade e a exactidão das palavras ditas, mas a forma e o conteúdo foram estes.

Rui Rio, continua a não entender qual deve ser o seu papel, mas insiste.

Pena, que eu tenha de ter de assistir, e a cidade também.

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