28 novembro, 2005

Sobre crucifixos

De O Jumento, com a devida vénia este texto:

Cresci a ver Cristo crucificado na parede da escola primária mais um Salazar que nos crucificava a todos e não sou nem mais, nem menos católico por isso. Nesse tempo éramos todos católicos, um povo maioritariamente católico como diz, com oportunidade e oportunismo, Cavaco Silva, o candidato da Nação. E é desse tempo que ficou o hábito de o crucifixo ser uma presença obrigatória na parede das salas de aula. Se não éramos católicos confessos, éramos estatisticamente católicos, e se não fossemos católicos, seríamos quase clandestinos, mesmo se fossemos cristãos.

Os crucifixos das paredes das escolas não são uma manifestação colectiva de fé, são uma herança de um passado em que a Igreja Católico, a troco do quase exclusivo da evangelização de Portugal e do seu vasto império, colaborou com o regime e permitiu que este usasse o catolicismo como uma das suas afirmações ideológicas, como a benção da ditadura.

Retirar um crucifixo da parede de uma sala de aula só em mentes muito mesquinhas pode ser entendido como uma ofensa ao catolicismo dos portugueses, trata-se de gente que ainda sonha com a evangelização forçada. No mesmo país onde muitos bispos não permitem que nas suas dioceses as crianças não seja baptizadas porque os pais não são casados pela Igreja, são mesmos bispos fundamentalistas que querem impor os símbolos religiosos aos que não partilham da sua fé. São os mesmos que em tempos ainda defendiam a obrigatoriedade das aulas de “religião e moral” ou que em muitos domínio consideram que a lei penal deve ser o equivalente a uma sharia católica.

Só confunde catolicismo com imposição dos valores do catolicismo, o que não percebem que a religião deve ser a emanação da liberdade e não um subproduto da ditadura.

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