13 janeiro, 2006

SEGUNDO POEMA DA CIDADE

O segundo poema da cidade
Foi feito de manhã
Quando o Sol começou
A brincar nos telhados,
Quando os eléctricos principiaram
A atravessar as ruas sonolentas,
Quando os barbeiros abriram as portas,
Os ardinas trouxeram os jornais,
Os caixeiros vieram para as lojas
E os automóveis e os camiões
Passaram apressados, buzinando.
O segundo poema da cidade
Foi feito quando passou o enterro
Dum jovem triste que se suicidara,
Foi feito quando um milionário velho
Saiu sorrindo da casa da amante.
O segundo poema da cidade
Foi feito de manhã
Quando o Sol beijou da mesma maneira
As flores, os homens, os automóveis
E os pescadores no mar.

António Rebordão Navarro
in, Ao Porto
- Colectânea de Poesia sobre o Porto

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