11 junho, 2006

Paulo Vallada

Até porque é merecida, não há como relembrar esta crónica de Jorge Vilas no JN, para assim o homenagear .

O macaco e o galho
A cidade do Porto vista por Paulo Vallada, um homem que já foi seu presidente
arquivo jn



Não raro vou ter com Paulo Vallada ao seu escritório, na Areosa. A conversa é sempre longa e os temas andam à volta do Porto, a sua e minha cidade. Aos 80 anos - fê-los na passada semana - aquele que foi presidente da Câmara mantém intacta a sua lucidez e a capacidade de análise dos problemas. Nunca responsabiliza aqueles que o antecederam como agora é timbre dos governantes e autarcas mais na berra e àqueles que o seguiram na gestão da polis, pede desculpa pelo que de menos bom possam ter herdado do seu mandato.

Num tempo em que ninguém gosta de assumir os seus erros e omissões; numa altura em que muito boa gente se aproveita, como o macaco, do galho em que se encontra para pular para o galho que está mais acima, é bom saber que ainda existe gente como ele que faz da modéstia um dogma mas que ao mesmo tempo se mantém atento e capaz de dar sugestões meritórias. A sua opinião no que se refere à revitalização e renovação da Baixa Portuense segue na linha dos inúmeros contributos dados por especialistas na matéria mas, por exemplo, quando ouve alguém defender que o Metro será a ferramenta essencial para a retoma de uma zona deprimida, ele manda-os "tirar o cavalinho da chuva" e pede a todos que têm responsabilidades na matéria que não se fiquem por aí.

Para ele, o renascimento do centro do Porto apenas será obtido à custa de uma mistura de três vectores o habitacional, o comercial e lazer. Tudo combinado, Paulo Vallada apela à imaginação e à inovação dos lojistas. Lembra que, mais do que um cinema juntos atrai, em vez repelir, os espectadores, como acontecia na Praça da Batalha há 20 anos. E que não foi por acaso que os ourives se concentraram nas ruas das Flores e de 31 de Janeiro. É certo que isso aconteceu porque até meados dos anos 70 a estação de S. Bento centralizava todos os comboios de longo curso, o que já não sucede.

Para ele a receita é sempre a mesma inovação no que se refere, por exemplo, à cobertura de ruas para que os potenciais clientes se sintam como num centro comercial; à festa e alegria porque é isso que atrai gente à Baixa, agora servida por um moderno sistema de transportes como é o metro. E, a propósito, recorda que o centro o Porto irá ter três estações: Trindade, Avenida dos Aliados e S. Bento.

Ele lembra-se - em boa verdade, todos nós nos lembramos - como era agradável andar de eléctrico, um meio de transporte que foi liquidado pelo automóvel. No entanto, ele garante que se criarmos as condições para isso, o reinado do "quatro rodas" terá os dias contados, já que o metro, complementado por uma rede de eléctricos (onde está o Plano de Mobilidade ?) permitirá criar novos motivos de interesse. Isto, no entanto, se os lojistas, como defende Paulo Vallada, se aperceberem que o seu sucesso residirá sempre, como aconteceu no passado, na gentileza com que acolhe dos seus clientes em estabelecimentos renovados e arejados. E mais apela àquela classe profissional para o aprofundamento das ruas temáticas, para a flexibilidade de horários e para a recriação de festas populares e de feiras temáticas aos sábados e domingos no Largo do Tribunal da Relação, nas praças da Batalha e da Ribeira e no próprio edifício da Alfândega Nova.

Paulo Vallada pede os jovens que não acreditem na subsídiodependência. Não são precisos fundos comunitários; imperativo, diz ele, é ter ideias, projectos e realizar obras. Em suma, outras mentalidade, que não aquela que infelizmente faz curso nos dias de hoje a do presidente da câmara que quer julgar o presidente do clube e este que quer derrotar o primeiro. A do presidente da junta que quer ser vereador. E a do presidente que quer ser ministro. Por que é que cada macaco não fica no seu galho?

in JN, por JORGE VILAS

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