15 abril, 2011

Falta de memória

Muito embora o país tenha avançado muito na sua alfabetização, estranhamente tem vindo a aumentar a sua iliteracia, o que é um paradoxo só explicável pelas deficiências e vulnerabilidades dos programas de ensino e pela sua tendente especialização, levando a que a generalidade dos jovens seja, de facto, conhecedora q.b. sobre uma determinada disciplina muito específica, mas com uma ignorância exponencial proporcional ao afastamento que vai tendo das outras áreas científicas que se encontram ao seu redor.
Habitual vai sendo, ouvirmos jovens (e até menos jovens) debitarem normas e teorias sobre determinados assuntos, citando a torto e a direito especialistas de nome sonante, mas que raramente sabem adaptar as citações ao trivial dia a dia ou utilizá-las na mais comezinha circunstância.
Outro incidente mais grave prende-se no entanto com a assustadora falta de memória que se abate sobre uma grande parte da população portuguesa que, s.m.o., se deve à ausência de utilização das lengalengas no ensino da aritmética, no esquecimento a que foram votados os escritores portugueses de boa qualidade, substituídos por uma horda de escribas/tradutores que alinhavam (geralmente mal e pobremente) umas quantas linhas de texto ou se limitam a traduzir (mal e sem sentido) outros, com que enxameiam os manuais escolares para a infância, nas omissões e até mesmo desaparecimento do ensino da música tradicional portuguesa, no cada vez maior desconhecimento que paira sobre a hidrografia e orografia nacional, no terrível desaparecimento da história portuguesa estilhaçada em historietas da história que não conduzem a nada, ou ainda ao ineficiente estudo da história recente, nomeadamente dos motivos porque apareceu a república, a sua decadência, o aparecimento da ditadura salazarista/marcelista que atrofiou este país para além do concebível, para já não falar na história mais recente vinda desde o Abril de 74 até aos dias de hoje.
A memória portuguesa, por culpa colectiva dos políticos, da comunicação social (qual ogre que deles se alimenta para logo os defecar numa busca insana de audiências), dum corpo docente mais preocupado na sua própria evolução do que na evolução dos discentes, na perca de valores tidos como anacrónicos e ingénuos (honestidade, moral, solidariedade, generosidade, respeito, decência), está assim em franco declínio, levando a que a curto prazo só nos lembremos do nome do filho que geramos mas que não saibamos bem de que família é que provimos.

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