18 novembro, 2007

Pois é

Pus-me a ver filmes e a ouvir a Dulce Pontes e deu nisto...

Eu escrevi esse texto quando vi Cine Paradiso pela milionésima vez, em fevereiro de 2003:

Eu deveria ver esse filme pelo menos uma vez por mês. Só para ter o horror de saber que a vida é verdadeira, como o NN diz. Ou como ele cita - acho que Fernando Pessoa, não tenho certeza.

Cine Paradiso

Eu não vou conhecer todos os lugares que desejo, nem tudo e todos que quero. Não posso viajar no tempo. Não consigo acabar com a saudade, nem conseguirei. Eu vou morrer algum dia. "O cinema é só um sonho", diz um personagem quando o Nuovo Paradiso é destruído. E eu choro, como já estava fazendo desde o começo do filme e continuo até meia hora (ou mais) depois do fim. Vou até o banheiro, lavo o rosto e tento esquecer novamente que a vida é verdadeira, fugir um pouco do horror, só um pouco: o sentimento, músicas, filmes, livros, amor. Estranho como eu tento amenizar esse horror, de saber que a vida é verdadeira, ao observá-la assim, em sonhos. E de um sonho pode-se dizer tudo, menos que é mentira - como já disse o Ernesto Sábato. É, é isso mesmo: eu só consigo fugir dessa verdade quando a encaro de frente. Mas preciso me lembrar disso com um pouco mais de freqüência.

Nessa época eu era uma estudante de cinema. Sim, eu já fui uma estudante de cinema. Agora parece que foi em outra vida; mas faz só cinco anos. Provavelmente eu fui a estudante de cinema mais relapsa que já existiu. Provavelmente eu não nasci para ser cineasta. Provavelmente o meu amor pelo cinema não venha tanto das imagens, mas das histórias -- o que me torna, definitivamente, uma estudante de cinema desnaturada. Mas o que ninguém pode negar é que sempre fui apaixonada, completamente apaixonada pelos filmes. Ainda assim, eu acreditava que já estava imune a certas coisas. Uma dessas coisas era ouvir a trilha sonora que o Ennio Morricone fez para Cine Paradiso e não chorar. E sim, eu estava redondamente enganada.
por Marcele Fernandes as 20:24:46

in, Eclipse