15 agosto, 2011

A caridadezinha

Num país que habitualmente só é solidário quando alguém faz um programa na televisão para doar para uma causa qualquer, onde, por norma, se olha de esguelha para o pedinte que estende a mão encostado a uma parede, onde ter um lar para idosos ou um infantário é ter um negócio e não uma forma de prestação de serviço social, onde depois de apuradas as contas das campanhas de angariação de fundos se verifica que mais de dois terços foi para pagamento de serviços a terceiros e o que resta não dá para as necessidades que se invocaram, onde já vi peditórios onde após a recolha de dezenas de milhares de euros se teve a distinta lata de entregar um cheque de umas centenas aos pais do desgraçado que foi utilizado para as tias e os tios mostrarem que também são amigos dos desfavorecidos, as afirmações de uma recente condecorada pelo presidente da República e que está à frente de um desses centros de negócio ao vir defender que a ASAE não deve meter o bedelho nos armazéns dos caridosos, porque, pelos vistos, a fome e a necessidade não são consentâneas com os prazos de validade e higiene, o cheiro que se escapa para o ar é de tal forma nauseabundo que diríamos estar numa fábrica de curtumes no velho oeste.
Já o Zé Barata Mouta dizia na sua canção:
...
Neste mundo de instituição
Cataloga-se até o coração
Paga botas e merenda
Rouba muito mas dá prenda
E ao peito terá
Uma comenda
...
Será que ter necessidade passou a ser sinónimo de ser obrigado a pertencer a um clube em que os mais elementares direitos são espezinhados, para assim poder encher ainda mais as largas bolsas de cabedais bem gordos dos que andam por aí a brincar à caridadezinha?

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