Coisas estranhas
Num país onde se odeia os sindicalistas é estranho que um dirigente
sindical tenha tanto protagonismo nos jornais e televisões, sendo
bajulado por jornalistas e políticos apesar de não dizer nada que mereça
a perda de tempo de o ouvir.
Num país onde a classe política detesta sindicatos e sindicalistas é
estranho que a tomada de posse dos órgãos de um sindicato seja tão
concorrida por colunáveis políticos como a posse de um Presidente da
República.
Num país onde os banqueiros odeiam sindicatos é estranho que financiem um congresso sindical.
Num país onde os trabalhadores estão a ser empobrecidos e onde os
funcionários públicos já perderam um terço dos seus rendimentos é
estranho que um sindicato organize um congresso num hotel de luxo com
programa de três dias para acompanhantes, com direito a refeições e
cruzeiro pela costa algarvia.
Num país em crise é estranho que um sindicato convide uma dúzia de
jornalistas e os instale num hotel de cinco estrelas com deireito a
pensaõ completa e programa social.
Tudo isto deixa de ser estranho quando se sabe que o sindicato em causa é
ele próprio um sindicato muito estranho, o absurdo sindicato dos
magistrados do Ministério Público, uma espécie de magistrados que alguém
escolheu para polícias da democracia mas pelo estado da justiça não têm
desempenhado esse papel. Pois os nossos ilustres sindicalistas
organizaram um congresso de luxo com direito a programa para
acompanhantes e com borlas para jornalistas. Até aqui tudo normal, as
dúvidas surgem quando se percebe que o congresso tem o patrocínio da
banca e de grandes empresas, bem como dos jornais, os tais que têm
beneciado de acesso generalizado a processos em segredo de justiça..
Se a moda pega o Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos organizarão o
seu congresso numa estância de neve da Suíça, o sindicato dos
investigadores da PJ poder escolher entre a Bretanha e o hotel de gelo
na Finlândia. Qual será o gestor de bom senso que recusará um patrocínio
ao pessoal do fisco ou o criminoso que se arma em forreta se o pedido
vier da PJ.
Não admira a generosidade do sindicato para com os jornalistas, vem na
tradição da generosidade que a justiça portuguesa tem para com os
jornalistas, dão-lhe cópias dos processos e um dia destes ainda vão
inventar investigações para combater a crise que a imprensa está a
atravessar. É evidente que na hora de opinar sobre a escolha do próximo
procurador-geral os jornalistas não esquecerão de qual tem sido o grupo
de pressão que os tem ajudado e ainda os convida para encher a mula num
hotel de cinco estrelas.
Corrupção? Não senhor, corrupção é só o que está previsto no Código Penal. Isto é só pouca vergonha.
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