Título da
crónica de Jorge Fiel no JN, que aqui abaixo se reproduz.
Agatha Christie, sim. Toda. Mas não só.
Também Stanley Gardner, Rex Stout, Simenon, Chandler .... enfim toda a
galeria de autores que a coleção Vampiro nos apresentou em livros de
bolso baratos, com capas lindas (em particular as de Lima de Freitas) e
encadernações péssimas.
Vampiro sim, mas não só. Também outros
clássicos, como Poe, Conan Doyle ou Maurice Leblanc, ou não tão
clássicos como a mais recente geração de autores nórdicos, inaugurada
pelo imperdível Henning Mankell e colocada em órbita por Stieg Larson.
Fanático
por policiais, não resisto a um bom mistério, como este que vou expor,
protagonizado pela região que é o principal centro de serviços e a porta
de entrada e saída de gentes e mercadorias.
O Porto tem o mais
elogiado aeroporto do país, o que mais cresce (carga e passageiros) e é
regularmente eleito como um dos melhores do Mundo (senão mesmo o
melhor), na sua categoria. Temos Leixões, o mais eficiente, lucrativo e
cobiçado de todos os portos portugueses.
Temos indústrias
tradicionais (têxtil, vestuário, calçado e metalomecânica, etc.) que
souberam aguentar o impacto da globalização e fazer do Norte a única
região do país que exporta mais do que importa.
Temos Amorim e
Belmiro, os dois maiores empresários da geração pós 25 Abril, que se
firmaram sem terem de ser levados ao colo pelo absurdo Condicionamento
Industrial do Estado Novo.
Temos o vinho do Porto, produzido no
Douro, declarado pela Unesco Património da Humanidade, e as duas marcas
de produtos portugueses com maior notoriedade internacional (Mateus Rosé
e Super Bock).
Temos Serralves e a Casa da Música, dois Pritzker,
a escola de Arquitetura mais famosa do Mundo. Fomos o berço do rock
português, uma linhagem que nasce com a dupla Tê/Veloso e inclui
Abrunhosa e os GNR de Reininho.
Temos Manoel de Oliveira, o
Fantasporto, as Curtas de Vila do Conde, o FITEI, o TN S. João, o
Palácio de Vila Flor, o Theatro Circo e dois centros históricos
(Guimarães e Porto) que a humanidade adotou.
Temos o F. C. Porto, a
mais bem-sucedida e admirada das nossas equipas de futebol, que não é
um eucalipto e soube acarinhar o crescimento do Sp. Braga, o clube do
distrito mais jovem da Europa, que se afirma como o terceiro grande.
Temos
a melhor, maior e mais internacional das universidades, a UP, bem no
centro de uma competitiva teia de produção de conhecimento formada pelas
suas congéneres de Aveiro, Braga e Trás- os-Montes.
Se temos tudo
isto, se o Porto é o melhor destino turístico europeu 2012, se o Norte é
a segunda região que mais contribui para a riqueza do país, por que é
que continua a ser a mais pobre e negligenciada?
Este mistério tem
duas explicações. A primeira é de que Porto e Norte têm excelentes
jogadores, mas falta-lhes o líder que os transforme numa equipa
vencedora. A segunda é que depois de darmos o nome ao país - e de dar a
carne de primeira, para ficar com as tripas -, chegou a hora de dizer
não aos chulos que vivem e prosperam com a mão metida no nosso bolso.