27 abril, 2007

Discurso redondo

É deveras interessante ver como rapidamente somos acusados de utilizar um discurso redondo, sempre que nos referimos a algo que, sendo verdadeiro, é tido por insignificante na óptica do beneficiado.

Vem isto a propósito de um comentário que inseri num blog amigo, que em interessante post acusava de provincianismo a antiga mui nobre sempre leal e invicta cidade do Porto, acusando os seus habitantes de se sentirem desconfortáveis em relação aos lisboetas.

Claro que medidas, de proteccionismo à capital, tão disparatadas como a que não permitiu a uma famosa casa bancária, nos idos de sessenta, se transformar em banco por pretender ter a sua Sede no Porto, não passam de discurso redondo, assim como o desaparecimento por migração/fusão das sedes de algumas instituições financeiras, ou na diferença de tratamento que tiveram as decisões sobre o lançamento de projectos na rede de transportes públicos urbanos, na diferença de tratamento entre as duas cidades nas acessibilidades rodo-ferroviviárias (quem se lembra dos trinta anos que levou a completar a A1) para já não falar no desenvolvimento fluvial inexistente a Norte, na constante prática de sub-valorização de retribuições para uma mesma prática funcional, no esquecimento do desenvolvimento escolar de que é exemplo a faculdade de Direito, que só aparece no Porto em 1978 pela mão da Católica e só 16 anos mais tarde na UP - mas quem quiser aprofundar o assunto das diferentes faculdades é só querer e constatar as diferenças.

E de quem será a culpa?

Dos lisboetas certamente que não é, daí não serem eles os responsáveis por tal situação, mas tentar fazer de conta que ela não existiu, e de que não teve perniciosa influência na evolução das duas cidades, é a mesma coisa que dizer que antes do 25 de Abril estava tudo bem, e que ninguém era preso por delitos de opinião.

Ainda hoje, é ver os exemplos que a governação ainda dá, até na colocação das agências europeias.

Enquanto na Alemanha, Grécia, Espanha, França e Itália se distribuem por cidades que não a capital, por cá, as duas existentes EMCDDA e EMSA ficam-se por Lisboa!


E que dizer da diversidade de tratamento que é dada nas áreas da cultura, espectáculo ou lazer?

Quando tantas vozes se levantam a clamar que o conceito utilizador/pagador deve ser aplicado a todos porque não falar nas indemnizações compensatórias que do erário público saem para, por exemplo, o Metropolitano de Lisboa e para o do Porto?

Será que é o provincianismo portuense que faz deslocar para Lisboa as sedes das empresas, nomeadamente as da comunicação social?

Será que é o discurso que é redondo, ou que a política seguida desde o tempo do D. Manuel I é que tem apenas um sentido?

O centralismo por vezes ofusca os sentidos, e muitas vezes quem mora na capital ou arredores, esquece-se que há mais nove milhões para além deles, e que no Porto estão alguns naquela que já foi a segunda cidade do País, mas que por força de politiquices absurdas, cada vez mais se afasta desse lugar a velocidade mais elevada do que a que tem afastado o País do centro da Europa a que pertence por obrigação geográfica.

2 comentários:

Nelson Reprezas disse...

Meu caro Teófilo m.

Só uma pequena correcção:
- Eu não acusei o Porto de provincianismo. Eu acusei aqueles que passam a vida a acusar os lisboetas e servi-me de um post do CAA do Blasfémias onde ele, figura conhecida e de proeminência na cidade do Porto, acusou Lisboa de provincianismo a propósito do túnel do marquês. O resto, incluindo tudo o que o amigo diz aqui neste post, é o que eu chamo de discurso redondo. Uma longa história a tentar justificar o que não tem justificação. Daí eu ter usado a expressão redondo. Se reparar bem, a acusação do CAA sobre o provincianismo de Lisboa transformou-se, neste post, a uma acusaçao minha à cidade do Porto... o que é, no mínimo, extraordinário.
Aceite um abraço

Teófilo M. disse...

Só agora a resposta, pois o tempo levou-me para outras bandas.

Você até é boa gente, mas quando fala do Porto equivoca-se bastante.

Quando vier por cá apareça pois há muito para contar.

Cumprimentos