02 agosto, 2011

As 7 maravilhas da gastronomia portuguesa!

Não sei quem foi o criador de tão peregrina ideia, mas, sendo infeliz, reduzir a sete as maravilhas gastronómicas deste país é por si só um atestado de menoridade cultural assaz impressionante.
Começando por cima, decidiram os organizadores logo à partida afastar uma série de categorias achando talvez que o número sete - por alguns considerado mágico - serviria para elencar toda a panóplia gastronómica que este país tão bem utiliza para revestir as suas mesas, sejam elas rústicas ou palacianas.
Não se compreendendo muito bem porque é que as sete maravilhas se dividem por entradas, sopas, mariscos, peixes, caça, carne e doces, separando e bem o marisco dos peixes o que já não acontece na separação entre a caça e a carne, parece que existe todo um propósito para uma distribuição de iguarias pelo território nacional, em vez de se tentar procurar a verdadeira iguaria em si.
Primeira ausência que se nota de imediato é a dos vinhos, sejam eles brancos, rosés, tintos, espumantes, suaves como água ou licorosos.
Não se compreende bem a questão, mas parece que foram substituídos pelas entradas que, não sendo originárias do país, foram habilmente importadas pela restauração para muitas das vezes salgar excessivamente a dolorosa.
Mas vamos andando.
Nas ditas, aparecem em alegre mistura a alheira de Mirandela, o pastel (!) - cá pelo Norte chama-se bolinho - de bacalhau e o queijo da Serra (DOP)!
Chamar entrada a uma alheira ou a uma talhada de queijo da serra (seja ele DOP ou não) é não saber do que se está a falar gastronomicamente.
Teria bastado aos pacóvios organizadores irem à bíblia gastronómica nacional para ficarem a saber que as entradas (do francês entrée) servem atualmente como preparação do palato para a refeição que se segue - embora originalmente se seguissem à sopa - e por isso não deverá o paladar ser embotado com preparações demasiado fortes ou agrestes que saturem as papilas para as delícias que a servir aparecerão.
Bastará imaginar uma entrada constituída por uma boa alheira de caça mirandesa para a seguir se ir proceder à degustação de uma açorda alentejana para vermos o disparate.
Como se não fosse suficiente, deixaram-se esquecidos nas entradas, as célebres ostras de Setúbal (em França apelidavam de Les Portugaises), o melão (da Zona de Ferreira do Alentejo) com presunto (do bom, ali da zona de Chaves ou do de porco preto de Barrancos), uma singelas azeitonas curtidas de Barca D'Alva,  umas ameijoas ao natural de Olhão (que não sejam de viveiro) ou até umas conquilhas apanhadas na praia de Altura e apenas abertas ao calor e polvilhadas de coentros.
Esquecerem-se nas sopas, das minhotas papas de sarrabulho, da alentejana sopa de cação, da sopa de nabos de Esposende ou da sopa de peixe de Sesimbra, são outros deslizes que em nada enobrecem o famigerado concurso.
Como o discurso já vai longo, vou-me ficar por aqui, não porque tenha pouco para dizer, mas para outra altura ficará.
Fiquem-se com algumas destas sete que eu vou procurar ficar com as restantes.

1 comentário:

bettips disse...

Menoridades
"os pastéis de bacalhau"
e aqueles supermercados que metem as cabras lá dentro
e um miúdo surpreendido (julguei que era a NG!)
... enfim, atenções para desviar atenções. Que de futebol esvaziou-se o balão.
Abç