05 novembro, 2011

Os trampolineiros

Habituei-me a vê-los em criança. Chegavam, mal vestidos, estendiam uma lona no chão e durante um meia-hora divertiam a assistência com os seus malabarismos, deitando fogo pela boca, dando saltos mortais, fazendo piruetas, enquanto a mulher andava à roda com um chapéu a recolher os donativos dos mais caridosos e um ou uma ranhosita a um canto tocava um tambor.
Era um modo devida que foi desaparecendo com o dealbar do 25 de Abril e que juntamente com aquelas parelhas que cantavam as desgraças alheias e os vendedores de banha de cobra deixaram de se ver nas nossas ruas e preças.
Mas não desapareceram, reciclaram-se!
Hoje os trampolineiros andam de carros de luxo, muitos conduzidos por motoristas e dizem hoje sim e amanhã não há mesma pergunta, saltam acrobaticamente de empresa em empresa, chegam a receber mesadas por trabalharem mais de 72 horas por dia, deitam lume pela boca que nos queima a alma e os bolsos, só que não pedem esmola, tiram-nos legalmente o dinheiro do bolso, as senhoras andam pelos cabeleireiros e lojas da moda e a prole em vez de tocar tambor, diverte-se gastando mesadas que fazem luzir de inveja os olhos dos recebedores de smn's.
Os grupinhos que cantavam desgraças tornaram-se jornalistas e alguns até donos de grandes grupos de jornais, contando agora não só as desgraças mas vão inventando também algumas, tal e qual faziam os pioneiros da profissão.
Quanto aos vendedores de banha-da-cobra foram para políticos, vendem-nos sonhos e esperanças que nunca resultam mesmo que as apliquemos com denodado esforço e sacrifício, montam a banca, vendem o produto e até por vezes se tornam associados das fábricas que lhes dão os produtos a vender.
Quem tinha razão era o Lavoisier, neste mundo nada se cria, nada morre, tudo se transforma.

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