17 março, 2012
09 março, 2012
Ei-lo de novo!
No meio de uma crise sem precedentes, o senhor presidente da República abre mais um fait divers no mundo palaciano dos noticiários que vai encher o bolso a tudólogos, politólogos, pitonisas e oráculos, especialistas em análise cripto-política, vendedores de banha da cobra, ex-dirigentes do PSD transformados em comentadores a metro, chefes de movimentos de esquerda em estado de coma induzido, esquerdistas puros, esquerdistas não tão puros mas liberais q.b. e restantes direitolas que também largarão a sua bojarda.
O que os movimenta todos é um ódiozinho de estimação que, para mim, é incompreensível mas que para eles fará todo o sentido.
Por outro lado, na luminosa Paris, um ex-primeiro ministro português goza de fininho, ouvindo lá de longe os lamentos dos saudosos e o desespero dos que sentem o seu fantasma pairar sobre as suas cabeças.
Quintiliano, disse-nos que entre o maldizente e o malfeitor a diferença á apenas casual e que quando não se tem talento, diz-se tudo. O homem de talento escolhe e contém-se.
Presumo que o cidadão Cavaco Silva, reputado professor, ilustre economista, ex-alto cargo do Banco de Portugal se sentiu ferido na sua sapiência talvez por não ter conseguido decifrar os números da execução governamental que um mísero engenheiro, com deficiente formação técnica, tenha conseguido forjar para os exibir perante S. Exª Cavaco Silva, presidente da República, dando assim provas de uma falta de lealdade institucional que ficará registada na história da nossa democracia!
Ter-se-á esquecido o escritor de tais palavras da famosa inventona de Belém protagonizada por alguém que lhe era próximo, do discurso em que dizia aos portugueses Há limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadãos. depois de ter afirmado umas linhas antes Ao Governo e ao Senhor Primeiro-Ministro reitero o compromisso de cooperação que há cinco anos assumi perante os Portugueses, e que a seguir pedia um sobressalto cívico?
Será que o cidadão Cavaco Silva se esqueceu que o sr. Presidente da República em Março de 2011 se empenhou ativamente para que aparecesse um orçamento sufragado pelo seu (dele) PPD?
Será que o sr. presidente da República tem sido consultado pelo atual governo quando decide ir mais além da troika pedindo cada vez mais sacrifícios aos portugueses que antes o mesmo presidente afiançava já estarem no limite?
Será que o projeto pessoal do cidadão Cavaco Silva o faz esquecer que ainda é presidente da República em exercício, e que as conversas privadas são privadas, sob pena de termos de recordar as célebres reuniões do então presidente Eanes com o Primeiro-ministro Balsemão?
Ajustes de contas à distância são tiros nos pés a curto prazo que se vão enquistando.
Cavaco tem mostrado a sua inabilidade em atos repentistas, este não o é, daí a interrogação de quem é que anda a fazer o quê e em nome de quem!
Dá para desconfiar, agora que já temos um ministro das finanças das Beiras que governa segundo os conselhos da sua avó.
06 março, 2012
Curiosidades estranhamente curiosas
Respigado de O Jumento este naco de prosa que, sem dúvida, é uma das curiosidades dignas de constar no Guiness.
Coisas estranhas
Coisas estranhas
Num país onde se odeia os sindicalistas é estranho que um dirigente
sindical tenha tanto protagonismo nos jornais e televisões, sendo
bajulado por jornalistas e políticos apesar de não dizer nada que mereça
a perda de tempo de o ouvir.
Num país onde a classe política detesta sindicatos e sindicalistas é
estranho que a tomada de posse dos órgãos de um sindicato seja tão
concorrida por colunáveis políticos como a posse de um Presidente da
República.
Num país onde os banqueiros odeiam sindicatos é estranho que financiem um congresso sindical.
Num país onde os trabalhadores estão a ser empobrecidos e onde os
funcionários públicos já perderam um terço dos seus rendimentos é
estranho que um sindicato organize um congresso num hotel de luxo com
programa de três dias para acompanhantes, com direito a refeições e
cruzeiro pela costa algarvia.
Num país em crise é estranho que um sindicato convide uma dúzia de
jornalistas e os instale num hotel de cinco estrelas com deireito a
pensaõ completa e programa social.
Tudo isto deixa de ser estranho quando se sabe que o sindicato em causa é
ele próprio um sindicato muito estranho, o absurdo sindicato dos
magistrados do Ministério Público, uma espécie de magistrados que alguém
escolheu para polícias da democracia mas pelo estado da justiça não têm
desempenhado esse papel. Pois os nossos ilustres sindicalistas
organizaram um congresso de luxo com direito a programa para
acompanhantes e com borlas para jornalistas. Até aqui tudo normal, as
dúvidas surgem quando se percebe que o congresso tem o patrocínio da
banca e de grandes empresas, bem como dos jornais, os tais que têm
beneciado de acesso generalizado a processos em segredo de justiça..
Se a moda pega o Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos organizarão o
seu congresso numa estância de neve da Suíça, o sindicato dos
investigadores da PJ poder escolher entre a Bretanha e o hotel de gelo
na Finlândia. Qual será o gestor de bom senso que recusará um patrocínio
ao pessoal do fisco ou o criminoso que se arma em forreta se o pedido
vier da PJ.
Não admira a generosidade do sindicato para com os jornalistas, vem na
tradição da generosidade que a justiça portuguesa tem para com os
jornalistas, dão-lhe cópias dos processos e um dia destes ainda vão
inventar investigações para combater a crise que a imprensa está a
atravessar. É evidente que na hora de opinar sobre a escolha do próximo
procurador-geral os jornalistas não esquecerão de qual tem sido o grupo
de pressão que os tem ajudado e ainda os convida para encher a mula num
hotel de cinco estrelas.
Corrupção? Não senhor, corrupção é só o que está previsto no Código Penal. Isto é só pouca vergonha.
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05 março, 2012
Ainda há quem reme contra a corrente
Óscar de Mascarenhas, provedor do leitor do DN, assina um artigo de opinião em que arrasa uma hipotética notícia dada à estampa por Francisco Almeida Leite a que a direção do jornal dá cobertura como se tal notícia fosse verdadeira, comprovada e fosse o espelho da realidade e não apenas uma versão governamental sobre direitos de trabalhadores que estavam entao em greve.
Para além de levantar a questão sobre a maneira de fazer jornalismo naquele diário, avisa que por aquelas bandas, palavra de governantes não se discutem e são verdades indiscutíveis.
Provedor de um jornal que se preze não poderá ter outros critérios para além dos jornalísticos, mas, pelos vistos, há muita gente por aí que o critica por este ter tomado tal posição, quiçá por ter denunciado o mau jornalismo e a pouca vergonha noticiosa que grassa neste país um pouco por todo o lado manchando jornalistas honestos e confundindo-os com publicitários profissionais que titulam a publicidade de jornalismo, mesmo que este se evidencie parcial, tendencioso e mentiroso.
03 março, 2012
Racismos
Anda por aí uma nova onda de políticamente correto que já se atira ao Azeite Gallo e ao Houaiss, que aparecem acusados de racismo por amantes duma novilíngua que venha substituir o bom e velho português que lá se vai aguentando.
Recordando o tempo em que havia séries e filmes que metiam o(s) pretinho(s) (ou devo dizer negrinho(s)) só para dar um ar de pluralidade racial, vejo-os substituídos agora por outras séries e filmes onde metem um branquela (ou deveria dizer branco) que fazem exatamente a mesma coisa.
Como diz o Manuel Pina, e passo a citar deverá "A língua portuguesa, por exemplo, seria limpa do uso de "judeu" ou
"escocês" no sentido de avarento, "judiarias" no sentido de maldades, ou
ainda de expressões como "trabalhar como um negro", "trabalhar como um
mouro", "trabalhar como um galego", "gozar como um preto", etc.. Isto é,
seria limpa da sua História. E, já agora, porque não limpar a própria
História dos factos feios e deixar só os bonitos e "correctos"?"
Se calhar é isso.
Os benfiquistas deixarão de ser lampiões, os sportinguistas lagartos e os portistas dragões; a cãozoada deixará de poder ser utilizada para significar um grupo de amigos que se juntam em bando, um garoto não mais podertá significar indivíduo malcriado e atrevido e nem sei se lhe poderá ser atribuída a definição de bebida, pois como resulta da mistura de café com leite ao pedir um garoto escurinho alguém pode pensar que o que eu quero é um miúdo bronzeado ou mulato para me divertir em brincadeiras perigosas!
A parvoeira do politicamente correto e dos significados da língua e da sua utilização deverá ser feita não por dicionários ou prontuários mas por decisões judiciais e se ninguém nos acudir qualquer dia um no AO ainda vai necessitar de um DL para se poder criar um neologismo.
Deus os guarde para sempre longe da nossa vista a estes pobres defensores da esterilização estética.
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01 março, 2012
Traduttore, traditori
Há muito que venho criticando as muitas traduções que eminentes licenciados (em quê?) fazem, pagos a peso de ouro e distribuídos por empresas que ganham bem sem sequer o fazerem bem.
Ontem, mais uma vez, na legendagem de um filme, foram-me apresentados dois novos pintores por um(a) tradutor(a) que não deverá saber ao certo o que andará a fazer e mesmo assim foi remunerado(a) pelo mau trabalho que faz.
Desta feita calhou ao Carvagio e Michelângelo serem dados como pintores famosos!
Se queriam escrever os seus nomes em italiano, faltaram letras num e acentuação a mais noutro, se os quiseram traduzir para português, a fazer asneira continuaram.
Mas como agora aos licenciados, pelos vistos, não lhes é pedida cultura nem conhecimentos gerais basta saberem um pouco do mester que escolheram, talvez tudo esteja certo...
Que lhe perdoem os dois Michelangelos, o estropiarem-lhes parte dos nomes!
Uma boa explicação!
Explicação da Eternidade
devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.
os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.
por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.
os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.
foste eterna até ao fim.
José Luís Peixoto, in "A Casa, A Escuridão"
devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.
os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.
por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.
os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.
foste eterna até ao fim.
José Luís Peixoto, in "A Casa, A Escuridão"
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