11 dezembro, 2008

Longos dias têm cem anos

Ao ir buscar a Agustina Bessa-Luís o título do seu livro sobre dois vultos enormes da pintura, fi-lo no intuito de homenagear um portuense ilustre que perfaz hoje o 100º aniversário.

Esse homem, que bem poderia ter levado uma vida fútil e isenta de trabalhos, preferiu enveredar por uma das menos rendosas profissões deste País - realizador de cinema.

O primeiro filme dele que tive o privilégio de ver, foi o Aniki-Bobó, título que veio e uma lenga-lenga que a canalhada - era assim que nos chamavam - entoava para jogar ao 'apanha' ou 'agarra', que na minha juventude ainda ecoava frequentemente, nas ruas praças e vielas da cidade que o viu nascer.

Aniki-bébé
Aniki-bóbó
Passarinho Tótó
Berimbau
Cavaquinho
Salomão
Sacristão
Tu és Polícia
Tu és Ladrão
Eu não quero ser Ladrão
Berimbau-tau-tau
Tenho medo da Prisão
Aniki-bébé
Aniki-bóbó
Passarinho Tótó
Berimbau
Cavaquinho
Salomão
Sacristão
Tu és Polícia
Eu sou Ladrão

Na altura, quer a critica quer o público, não lhe deram grande importância, do mesmo modo que o fizeram no seu primeiro filme, Douro - Faina Fluvial, a que logo se seguiu outro, Estátuas de Lisboa.

Seis anos volvidos dá-nos mais dois documentários - Miramar, Praia das Rosas e Já se fabricam automóveis em Portugal. Este último um documentário a rever pelos industriais do Norte para poderem aprender o que é a vontade e criatividade nacionais.

E lá continua a filmar, Famalicão (1940), a que se segue o já falado Aniki-Bóbó.

O Pintor e a Cidade (1956) chega-nos 14 anos depois, tempo necessário para sarar as feridas provocadas pela crítica e pelo público, que nunca mais se reconciliou com o autor.

A Caça, surge em 1963, e é considerada em Toulon a melhor curta metragem em exibição, e vem também por acréscimo nova longa metragem O Acto da Primavera, fantasia etnográfica

Mais dois documentários, estreados em 1965 e 1966 - As pinturas do meu irmão Júlio e O Pão (feito em 1959).

Novo interregno e dá-nos O Passado e o Presente, que lhe traz alguns prémios, o reconhecimento e a polémica.

A partir daqui o autor parte para Benilde, ou a Virgem Mãe, Amor de Perdição e Francisca.

O reconhecimento aumenta internacionalmente, enquanto portas adentro se vai impondo devagar.

Segue-se o Sapato de Cetim que é galardoado com o Leão D'Ouro.

A partir daqui e até 2007 os filmes sucedem-se em catadupas à média de um por ano, como se o artista tivesse pressa em recuperar o tempo há muito perdido.

Fastidioso será enumerar os muitos filmes e galardões recebidos, pois outras fontes os terão com melhor apresentação, resta-me pois ficar à espera do Singularidades de uma rapariga loura, e agradecer tudo aquilo que nos deu.

Parabéns, Manoel de Oliveira, que conte muitos.

2 comentários:

tulipa disse...

Na homenagem que lhe fiz, falo do único filme de Manoel de Oliveira que vi, quando ele esteve a filmar aqui bem perto de mim.

O seu post está 5 estrelas, com quase todo o historial de vida deste fabuloso cineasta.

Teófilo M. disse...

Obrigado pelo elogio.