20 outubro, 2012

Manuel António Pina



Já tinha estranhado, pois as suas crónicas tinham desaparecido, e, geralmente, estes silêncios raramente prenunciam algo de bom.
A notícia, triste, chegou.
Aos 68 anos morreu!
Mais uma voz incómoda que desaparece. Os que mais necessitam e a liberdade estão hoje mais pobres.
Que descanse em paz e que o seu exemplo frutifique.

O Medo 

 

Ninguém me roubará algumas coisas,
nem acerca de elas saberei transigir;
um pequeno morto morre eternamente
em qualquer sítio de tudo isto.

É a sua morte que eu vivo eternamente

quem quer que eu seja e ele seja.
As minhas palavras voltam eternamente a essa morte
como, imóvel, ao coração de um fruto.

Serei capaz

de não ter medo de nada,
nem de algumas palavras juntas?


Manuel António Pina, in "Nenhum Sítio"

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