23 novembro, 2005

O anátema da cultura

Segundo narra Diógenes Laércio, na sua Vidas dos Filósofos, Aristóteles, terá dito que a diferença existente entre os homens cultos e os incultos, seria: A mesma diferença que existe entre os vivos e os mortos.

Ora, se o filósofo o tivesse feito por estes dias, seria alvo de violentos comentários, por parte de uma quantidade de iluminados, que entendem que é duma jactância atroz alguém falar em cultura, quando está em causa a escolha da personalidade para ocupar o lugar de presidente da República Portuguesa!

Claro, que alguns dos comentadores, mais não fazem do que tentar enxovalhar o personagem que critica o eminente economista, Cavaco Silva, por este não saber falar de mais nada, senão daquilo em que se especializou.

Cai o Carmo e a Trindade, porque o cidadão Mário Soares diz que convém ter na Chefia do Estado alguém que conheça a História e a cultura do nosso país, alguém que conheça Os Lusíadas, o nosso poema máximo!

Será que, como alguns se permitem dizer, bastará que para desempenhar o lugar seja suficiente o que está escrito na Constituição da República Portuguesa... ter 35 anos de idade e ser cidadão português?!

Mas, o mais interessante, é que as critícas, na sua generalidade, provêm de uma camada escolarizada, mas de reduzida cultura, que pensa que o canudo tirado à custa de marranço e alguma sorte, lhes possibilita ombrear com aqueles, que por obras valerosas, se vão da lei da morte libertando.

O meu falecido pai, era operário especializado, mas nem por isso deixava de gostar de ver ópera, ouvir musica clássica, visitar museus e igrejas, interessar-se por conhecer mais de uma religião, ler o que podia em português e brasileiro, e não foi a humildade do seu nascimento ou da sua profissão que o levaram para esses caminhos, que foram muitos mais do que aqueles que com mestrados e doutoramentos nos curricula, já se decidiram a percorrer.

Que diriam alguns destes fariseus, que pregam a superior qualidade da especialização, se para seus dirigentes fossem escolhidos personagens que, como Cristo, não soubessem de finanças nem constasse que tivessem bibliotecas...

Soares, terá muitos defeitos, e não serei eu a retirar-lhos ou a advogar que os esqueçamos, mas misturar a cultura essencial, com o conhecimento específico, é de uma tal monstruosidade que só, de facto, mentes muito pouco desenvolvidas poderão elaborar sobre a sua hierarquização.

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