26 janeiro, 2009

Agora é o JN

Ontem, na minha visita diária à A Baixa do Porto, dou comigo a ler duas vezes a notícia sobre a hipótese de encerramento do JN!

Primeiro, foram o Comércio do Porto e o Primeiro de Janeiro (esse ainda anda por aí em versão electrónica), agora é o Notícias, como é conhecido cá pelo burgo, a seguir é o deserto.

Mas para que queremos nós um jornal cá na cidade? Para sabermos as notícias que são transmitidas por todos os outros?

Na edição de hoje ficamos a saber que o PS aprovou por aclamação onteontem (!!) a Elisa Ferreira para concorrer à CMP, que um cão mais o respectivo dono caíu ao mar, que um médico surfista foi salvo por uma equipa de salvamento da Câmara de Matosinhos e que a CDU denuncia o caso de oito famílias a viver em condições degradantes.

São estes os destaques sobre a cidade e arredores, depois fala-se nos custos de umas escolas em Leça e Matosinhos, numas trapalhadas políticas em Valongo, numa churrasqueira que pode fechar porque os cheiros dos grelhados incomodam a vizinhança, e sobre as queixas de barulho que os vizinhos de Matosinhos apresentam.

Como opinião temos o Mário Crespo a informar-nos de que o José Sócrates já não serve para primeiro-ministro porque um tio fez não sei o quê o que abala a sua credibilidade pelo que deve solicitar eleições antecipadas (!!!), o Rafael Barbosa a falar sobre a crise, e as suas diferenças entre os que a sentem, e o Honório Novo a atirar-se ao Sócrates por causa da Quimonda e da avaliação dos professores.

Afinal chega agora ao último dos grandes jornais portuenses, o mesmo que chegou às restantes actividades de grande dimensão, mudam-se para Sul, e algumas vezes desaparecem no meio dos grandes grupos económicos.

Quem se lembra dos grandes Bancos do Norte e das Companhias de Seguros? O que é que lhes aconteceu? E quem é que se importou?

Porque é que havemos agora de estranhar, se sempre aceitamos tudo com um ligeiro protesto aqui ou ali?

E onde pára a CMP neste processo todo?

E as altas autoridades da concorrência e da comunicação social? E a solidariedade dos restantes jornalistas?

4 comentários:

Anónimo disse...

Fechar o JN??? Porque razão? Porque dois ou três jornalistas insignificantes para o jornal estão numa lista de despedimento? Mas o que mudou no JN de ontem para hoje? Uma petição online tosca feita por dois ou três jornalistas que nos últimos anos não deram ao jornal mais do que umas breves??? Não seria melhor informarem-se do que falam quando falam do JN?

Teófilo M. disse...

Caro Anónimo,

não sei se são dois ou três jornalistas insignificantes, mas estou de acordo consigo quando se interroga sobre o que mudou no JN de ontem para hoje.

O JN vem mudando há muito tempo, talvez lhe subisse à cabeça que se fosse um jornal nacional seria mais importante, a verdade é que foi abandonando a cidade que o lançou para ser mais igual aos outros.

Fechar, não fechar, pouco vai adiantar à cidade que o que precisa é de um projecto jornalístico voluntarioso e interveniente na Região Norte.

Anónimo disse...

Explique-se ao anónimo (a coberto do anonimato, a vida tem destas coisas...) que o manifesto em causa - tosco será, alguém abalizado que o diga... - não é lançado por dois ou três jornalistas nem diz que o jornal está na iminência de fechar. Alerta apenas, de forma fundamentada, para a descaracterização do título que está a ser causada por uma estratégia editorial de grupo, meramente economicista, descaracterização essa que, inexoravelmente, levará ao desinteresse dos leitores e, em última análise, à extinção. Atendendo a que escrevo a coberto do anonimato, não digo o que penso de alguém que fala com tal descontracção de processos de despedimento que, em verdade, abarcam muito mais de três jornalistas. Apenas desejo que a ele, à ascendência e à descendência o destino reserve tragédias bem mais duras do que as que este processo está a causar em muitas famílias de trabalhadores da empresa.

Já agora, caro Teófilo, a grandeza do JN esteve sempre em ser um jornal nacional feito no Porto e com alma portuense. Pensar que nacional tem de ser lisboeta ajuda a asfixiar a nossa cidade, e nenhum de nós quer isso. A descaracterização prende-se mesmo com a circunstância de serem contratados directores que desconhecem em absoluto o que é e foi o JN ou o que é a cidade do Porto. Ou as duas coisas em simultâneo. E, claro, com uma verdade ainda mais dura: quem manda, mesmo em matéria editorial, está em Lisboa.

Teófilo M. disse...

Caro anónimo das 2:29,

a descaracterização do JN é obra que se vem arrastando no tempo, e creio que o JN, injustamente, nunca foi olhado como um jornal nacional precisamente por causa do provincianismo natural da capital, que pensa que para ser grande tem de ter tudo lá dentro.

Ora, parece-me que o JN se deixou embalar nessa ideia e foi-se perdendo aquilo a que muito bem chamou alma portuense.

Daí que eu me bata por meios de comunicação que se estejam a borrifar nos acessórios da moda e optem por servir as regiões onde se inserem, pois só assim contribuirão para o desenvolvimento das mesmas.

Se alguém do JN quiser levantar essa bandeira, aqui estará mais uma voz a acompanhá-los.