09 outubro, 2005

Sampaiadas

O nosso presidente, em fim de mandato, decidiu agora que havia de lutar por uma causa que permitirá ao estado acusar de dedo leve, e que o cidadão para provar a sua inocência deverá esfalfar-se à procura de provas da sua inocência!

Para além de ser o supremo magistrado da nação, o dr. Sampaio é também advogado, o que torna o caso muito mais grave.

E o que será, para o presidente em exercício, uma fortuna?

Um milhão de euros? Dois, cinco, dez, cem, mil, um milhão?

E terá de ser em espécie, em terrenos, em casas, em contas nos off-shore, em barras de ouro, em jóias, em automóveis, em barcos, em aviões, em quadros, em livros?

E deverá estar em nome de quem, no do patriarca da família em conta individual, distribuído pelo agregado familiar (incluindo sobrinhos na Suíça ou no Japão), no nome dos filhos, em fundações, em nome de sociedades-fantasma, repartida por um milhão de locais, em títulos?

E se provier de terceiros, terá sido o herdeiro beneficiado com herança legitima, ou terá herdado património já inquinado, ou será apenas uma das peças do intrincado quebra-cabeças que os especialistas na matéria tão bem sabem montar, e que geralmente contam com a ajuda dos economistas de serviço, e muitas vezes apoiados por advogados de renome?

Não, senhor presidente, esta é mais uma das suas estranhas ideias para salvar a República, como tem sido a de distribuir condecorações a esmo, ser mal-educado para os seus subordinados hierárquicos desrespeitando as leis da nação, a de amaparar com o seu silêncio cúmplice alguns dos mais despudorados ataques à democracia, a de receber a seu bel-prazer figuras que atacam a essência do estado, e muitos outros jogos florais a que se permite.

Sou um anónimo e vulgar cidadão deste País, que sempre achou que ser presidente de Câmara seria o lugar mais alto a que deveria ter ascendido, os meus conterrâneos tiveram outro entendimento, democraticamente aceitei-o como meu presidente, só não me submeto a ser acusado de me calar sobre assuntos que me ferem a dignidade.

Todos somos inocentes até prova em contrário, não queira o senhor presidente, para salvar a República, que se passe a dizer que todos somos presumíveis culpados de crimes económicos, conforme a óptica do fiscal de finanças.

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