27 abril, 2011

Nós por cá, todos bem!

Está calor, excessivo, penso eu cá com os meus botões, seja porque o anti-ciclone dos Açores fez afastar as nuvens, seja porque o trio (porque insistirão em chamar-lhes troika, será que o nome russo lhes recordará algum paraíso, ou estão a tentar chamar-lhes trenó?) que se entretem a discutir a melhor maneira de esfolar o País, sem o matar, mas deixando-o moribundo, está lucubrando.
A comunicação social diverte-se com a falta de habilidade de Lello, o desaparecimento de Teixeira dos Santos, as falsas notícias sobre o que dizem saber sobre a receita dos senhores do dinheiro, a surpreendente inclinação para o diálogo epistolar público do PSD, as bocas do Relvas, as férias do Sócrates e as qualidades culinárias do Passos Coelho.
Os comentadores dizem-nos do alto da sua omnipresente clarividência que o povo é soberano nas eleições e saberá julgar os culpados, ou seja dar a vitória ao PSD ou uma maioria ao PSD/CDS, ou, que é estúpido e merece cruel destino, se votar ao contrário. Outros há, que com mais tendência para a economia social, descobriram as virtudes das senhas de racionamento e passam a chamar-lhes cartões de débito para pobres, pois acreditam piamente que há desempregados que o querem ser e viver dos subsídios de desemprego milionários que o estado dá ou do RMI faustoso que foi criado por governos despesistas, e acham que devemos privatizar tudo, pois o Estado só gasta dinheiro e não serve para nada. 
Creio que daqui a uns anos estes mesmos senhores estarão a defender a contratação do Presidente da República a uma empresa de trabalho temporário e requisitarão o governo a uma firma de outsourcing, pois lá estarão os auditores privados para substituir o Tribunal de Contas, a justiça será entregue aos Judges Dredd's que servirão sob as ordens de uma oligarquia de juízes supremos, substituindo-se assim duma assentada os tribunais, o ministério público e extinguindo-se finalmente a profissão de advogado.
As polícias serão substituídas por empresas de segurança, a saúde será privada e quem não tiver dinheiro no tal cartãozinho fica estropiado ou morre e vai para a icineração para ser transformado em adubo, pois os cemitérios serão privados, e para ser enterrado é preciso pagar, pelo que morrer decentemente passará a ser um luxo.
Sobre o nosso destino, o essencial, os ventos (perigosos) que sopram da Europa, o apelo necessário à participação popular, a pedagogia do indispensável... ficará para o dia de S. Nunca, e preferivelmente em horário não nobre.

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