Ontem, pelas 18:00 aí estava eu, de pé, confiado que o ministro das finanças em meia dúzia de minutos me ía explicar a razão pela qual me irá levar uma grossa fatia do meu subsídio de Natal, já que, na estranja, quando tem de explicar a situação do país apenas demora uns meros 180 segundos.
Pelo anúncio do dito ministro, logo vi que afinal ele estaria a falar para gente muito burra, pois determinou que iria perorar muito e sobre muitas coisas e ainda que, seguidamente, teria ainda disponibilidade de tempo para que as nossas dúvidas fossem desfeitas.
A minha surpresa começou por ouvir o senhor a falar dos anos 50 e do muito que este país tinha conseguido nestes 60 anos!
Doutoralmente, fez notar que agora as mulheres vivem mais tempo, que o execrável governo de Sócrates fez com que em 2009, pela primeira vez, antingissemos a média da OCDE para os jovens entre os 15 e 19 anos matriculados em estabelecimentos de ensino e... surpresa das surpresas, já não há fome nem morte prematura segundo o conceito de Malthus!
Assustei-me um pouco, pois Malthus não é, para mim, exemplo da modernidade, nem exemplo a seguir mas... oremos!
Surpreendentemente, ou talvez não, lá debitou o discurso de que desde 2000 (interessante data, certamente soprada pelo Álvaro), o país não crescia e que a economia definhava, não explicando o porquê da coisa tratou de avançar, pois para a frente é que é o caminho.
Espraiou-se longa e fastidiosamente sobre hipóteses e considerações sobre as previsões macroeconómicas sabendo perfeitamente que no meio da tempestade em que nos encontramos tudo é volátil e as previsões mais reais poderão vir dos astrólogos ou dos tarólogos e tudo o mais é treta pura.
Finalmente, e após todo este tempo gasto sem se vislumbrar grande coisa, fala no famigerado imposto, dizendo que vai incidir sobre tudo e mais alguma coisa mas só em sede de IRS, deixando no entanto de fora os juros e rendimentos de capital, que têm uma taxa liberatória de 21,5%!
Depois entregou uns anexos onde brinca com os números, tentando tornar-se mágico em bez de apenas ministro.
Alguns exemplos:
65 % dos agregados não irão pagar a taxa - como se chega a este número? O que é um agregado? Contam como agregados aqueles que são apenas constituídos por uma única pessoa? Pelas declarações de IRS que sabemos estarem longe da realidade, por informações vindas do INE, por dados de alguma secreta das finanças?
Cerca de 52 % dos salários pagos em Portugal, 80 % das pensões do Regime Geral, 45 % do Regime da CGA não serão abrangidos pela sobretaxa .
Qual a conclusão?
Que só basicamente as pensões de miséria do Regime Geral é que ficam de fora bem como os salários mínimos, mais de metade do país vai pagar, seja ele trabalhador, reformado, pensionista ou desempregado de curta ou longa duração.
De fora, juntamente com as pensões de miséria, ficam também os grandes aforradores, os que recebem parte substancial do salário no estrangeiro, os grandes acionistas, ou seja os extremos.
Os muito pobres e os muito ricos.
Tentar chamar a isto equidade é um insulto à inteligência, e lendo por aí que este ministro é uma espécie de sapiência, começo a duvidar quer do que se escreve, quer do que se entende por sapiência.
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