27 julho, 2011

Pobreza

Não é só económica, infelizmente!
O discurso político está também cada vez mais pobre. Os tribunos foram baixando o nível que já há muito abandonou a chinela para correr nas sarjetas. A ministrada, para além de vulgaridades, fica-se nos titubeios habituais e nas banalidades do costume. Os jornais e jornalistas, salva raras e honrosas exceções, para além dos erros gramaticais, desembrulham um discurso requentado e bafiento onde os estrangeirismos campeiam desenfreados como que a colorir os insípidos escritos. Os eruditos, talvez por vergonha, não se mostram nem escrevem, pois sabem que dificilmente encontrarão interlocutores à altura fora das revistas da especialidade.
A professorada diverte-se a brincar aos "pugramas", a desdenhar da literatura e esquecendo a prosa e o verso, preferindo a oralidade sem sequer cuidar de ensinar os matizes da língua pátria, dizem dedicar-se à matemática como se esta fosse o alfa e o ómega da aprendizagem,
Muitas das escolas que por aí montaram arraiais distribuem diplomas a metro, ou ao quilo a alunos que julgam que Tintoretto é uma marca de pistola de pintar, uma epístola é a mulher de um apóstolo, amandar é o infinito de um verbo, astrologia e astronomia são sinónimos, a libra é apenas uma unidade monetária, não sabem o que é, nem para que serve a regra de três simples, pensam que o D. Quixote existiu, desconhecem que existem em Portugal dois rios que, não sendo afluentes, são dos poucos na Europa que correm de Sul para Norte ou que na idade média não se comiam batatas, nem chocolate fora da América, que a pólvora já existe provavelmente há mais de dois mil anos e muito mais coisas a que vulgarmente damos o nome de cultura.
Lembro-me ainda de, há alguns anos, um desses sabichões recém encartado por uma universidade das sérias, querendo dar-se ares de apreciador das artes de palco dizia para quem o queria ouvir que na noite anterior tinha ido ver um espetáculo de ballet de nome Guizela!
Os restantes comensais espantados davam tratos de polé às suas memórias ntentando localizar o ballet que tinha tal nome. Eis senão, quando o confrontei com a possibilidade de em vez de Guizela ser a Giselle rapidamente veio a resposta: - Ou isso!
Ainda há dias ouvi uma senhoreca afirmar num canal da televisão que, pasme-se, a gastronomia também podia ser considerada cultura !!!!!
Quando há quem pense que a gastronomia também pode ser cultura e o diga num canal televisivo deixando que precedendo o seu nome lá esteja coladinho o terrível Dra. a dar ares de sei lá o quê, todo eu me arrepio da erudição destes meus doutos compatriotas.
Se a gatronomia não é cultura, o que é que o será? 
As férias nas estâncias da moda?!

Sem comentários: