13 julho, 2011

Os novos pobres de Bragança

Ontem, dei comigo espantado a ouvir num dos canais televisivos um dos novos pobres dissertar sobre a sua miséria, ajoujado ao peso de dois sacos com vitualhas várias que tinha ido recolher a um centro de assistência em Bragança.
Contava ela (a pobre), à interessada repórter, quais os sacrifícios que já tinha feito. Já tinha cortado o acesso à net, desistido da assinatura da MEO, acabara com um dos telemóveis e até já tinha deixado de dar cereais ao pequeno almoço às crianças!
O organizador da benemerente atividade, quando entrevistado, também referiu que algumas famílias que ali vão buscar ajuda já abandonaram o hábito de dar cereais ao pequeno almoço à miudagem e feito outros cortes orçamentais.
A evolução trouxe-nos aqui!
Alguns dos novos pobres de hoje têm casa própria, dois e mais carros, filhos a estudar no privado, acesso à net, telemóveis, computadores portáteis, consolas de jogos e roupas de marca, mas a arca vazia, comem gulodices em vez de sopa, emborcam leite achocolatado em vez de leite do dia, bebem refrigerantes em vez de água.
Este é um insulto desmesurado aos verdadeiros pobres que, envergonhados, se cosem com as paredes pela calada da noite ou de manhãzinha para tentar recolher algum alimento junto de organizações sérias, que há muito não têm telefone fixo nem móvel, vivem em prédios degradados, vestem o que lhes dão e poupam, fazem da sopa de legumes alimento possível, não compram medicamentos por falta de dinheiro e quando podem aproveitam qualquer trabalho que lhes alivie a dificuldade de sobreviver.
Quando se confunde pobreza com mudança de hábitos é nisto que dá.

Sem comentários: