31 agosto, 2005

Centro Materno Infantil a fugir?

Depois de lermos nos jornais, que a ARS-Porto emitiu um parecer em defesa de um Hospital Pediátrico em substituição do CMIN prometido há décadas, hoje, no PJ vem o candidato socialista falar, não no CMIN, mas num eventual Hospital Pediátrico que nada terá a ver com o projecto original.

Das duas uma, ou o candidato Assis já sabe da opção ministerial e dá-lhe cobertura, o que é uma capitulação aos interesses partidários e que nada augura de bom para uma independência reivindicativa em relação ao governo, ou então Assis não sabe da opção, mas prefere abdicar do que será um equipamento para servir o futuro, e não tem ideias em que acredite para voltar a ter o Porto-cidade como uma metrópole jovem e dinamizadora da região onde se insere.

É mau sinal, e os que apostam nele e que simultâneamente gostam da cidade, podem começar a interrogar-se se este será de facto o candidato que valerá a pena apoiar.

Alegre sabia... mas não conseguiu dizer NÃO

Trova do vento que passa

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de sevidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.


30 agosto, 2005

Estratégias

No nortadas, o Diogo, que passou por aqui um mês, volta a questionar o papel que o Porto pode e deve desempenhar como pólo dinamizador do País, e estranha o definhar das suas estruturas e o desaparecimento dos seus centros de decisão, questionando o papel da AMP.

Já o Tiago Azevedo Fernandes, em oportuno artigo , em finais do ano transacto, punha o dedo na ferida, desta feita afirmando que a regionalização seria dispensável.

Infelizmente, nos últimos anos, quer a autarquia, quer os poderes públicos, quer os industriais que por cá existem, têm entendimento diverso!

A autarquia, votou a cidade ao abandono, e não se vê iniciativa que fomente a criação de pólos de riqueza, ficando-se por anúncios do género do Porto - Cidade da Ciência, que geraram papelinhos destes, e destes, declarações destas, e resultados destes, que se realizariam da mesma maneira houvesse ou não houvesse Cidade da Ciência, pois estes eventos não se realizam em meia-dúzia de dias, da mesma maneira que não se tem um planetário fechado no mês de Agosto ou com apenas uma sessão no período de férias escolares., ou que olham para o turismo gastando dinheiro em festas de muito baixa qualidade para emigrantes, ou em projectos de utilidade duvidosa do tipo Museu do Vinho do Porto.

Os poderes públicos, enquanto derramam dinheiro na mudança de andares na AR pelos partidos políticos, em estudos e mais estudos sobre qualquer assunto que acaba por perder a oportunidade dada a morosidade das decisões, que entrega aos afilhados empresas como a CP, RTP ou a ANA, ou que apoiaram e/ou fomentaram todas as decisões que levaram a que os centros financeiros se localizassem a Sul, uma vez que só têm olhos para a capital, esquecendo-se que existe Pais para além de Lisboa, não irão fazer nada pelo que se vê na carruagem.

Os capitães de indústria e do comércio, preferem acumular fortunas em vez de dinamizar o País que os sustenta, só sabem copiar atrasadamente o que se faz lá por fora, têm uma resistência inconcebível ao desenvolvimento de produtos novos, olham para as academias como se fossem fornecedoras de 'borrachos' para as Queimas das Fitas, continuam incapazes de entender que o Porto é a melhor plataforma de movimentação de mercadorias, pela sua posição estratégica em relação ao noroeste peninsular e norte da Europa, continuando a clamar que o Estado lhes faça a papinha afirmando sempre que são contra o estatismo.

No meio de tudo isto, a Baixa agoniza, o Bolhão cai-não-cai, o comércio vai encerrando as portas e lançando para o desemprego mais umas dúzias, as empresas deslocalizam-se para os concelhos limítrofes uma vez que por cá ninguém lhes liga nenhuma, e o espaço que ocupam já está na mira dos construtores civis, o metro anda aos soluços no meio de birras e derrapagens, a água foge das condutas apodrecidas e a cidade agoniza transformando-se lenta mas teimosamente num jardim de pedra.

A falta de uma televisão regional forte, dinamizadora e empenhada e com a pronúncia do Norte, não arranca porque poderá incomodar o Paço, da mesma maneira que incomodou o município que lhe deu golpe fatal nas jogadas palacianas a que está habituado.

Os jornais vão fechando um a um, ou porque são incómodos, ou porque quem não tem dinheiro para comer, não poderá gastá-lo em leituras, ou porque não têm publicidade que os sustente, pois a televisão fica com a parte de leão, deixando as migalhas para os restantes.

A AMP, é um feudo partidário, que serve para trocar favores entre os que por lá se sentam, sem projecto e sem destino à vista.

Os transportes são tratados da maneira mais disparatada possível, pois da famosa Autoridade Metropolitana de Transportes não temos notícias desde 23.001.2004, por isso, fácil é ver de onde, na generalidade vem o desconchavo.

É verdade que poderíamos dar o salto para a frente, mas temo que quanto mais tempo passe, já não valha sequer a pena, pois já teremos chegado ao abismo, e passado a segunda ou terceira cidade do País, se entretanto a Galiza não nos comprar.

O Ciberdúvidas pode acabar

Numa altura em que muitos de nós reclamam que o ensino do Português anda pelas ruas da amargura, este serviço grátis que há muitos anos é disponibilizado aos internautas, corre novamente o risco de acabar se não arranjar apoios suficientes.

Penso que o serviço que este 'site' presta é de facto serviço público, pelo que as entidades deste País deveriam acarinhá-lo em vez de perderem tempo e dinheiro em projectos que não têm o impacto que este tem.

Aos interessados, se concordarem, apenas peço que subscrevam a petição em petição do Ciberdúvidas

Tempos que não voltam mais

Finalmente as férias grandes tinham chegado!

Numa altura em que ainda existiam famílias a residir na Baixa do Porto, não existiam telemóveis e que os próprios telefones rareavam e eram caros, as conversas faziam-se de janela a janela, entre prédios vizinhos que, à guisa de campainha, utilizivam um pau para tocar no vidro da janela adjacente em sinalética préviamente combinada.

E lá estava eu, a bater três vezes, na esperança de saber notícias do Armando.

- Então, é amanhã que bamos para o malagueiro?
- Sei lá, o meu pai 'inda num disse nada!

respondia-me ele, com o desalento estampado no rosto, pois era mais um dia que se perdia e com que sonhavamos dez meses por ano.

Perguntava eu de novo:

- Bem, atão bens p'rá minha casa ou bou p'rá tua?
- Como quiseres, mas hoje era melhor bires p'ráqui, pois a minha tia deu-me mais dois carros por ter passado p'rá segunda classe, e podíamos fazer uma corrida...
- Tá bem, deixa-me só ir buscar os meus e já boue.

Lá corria à caixa de brinquedos e tirava de lá os meus Dinky e Corgi Toys, para a corrida que iríamos fazer, para logo nos aborrecermos e brincarmos aos indíos e cóbois, até chegar a voz imperiosa de minha mãe chamando-me para almoçar, estragando assim a brincadeira que se interrompia para alimentar o pessoal, mas com recomeço aprazado para o início da tarde e com duração até ao pôr-do-Sol.

A cena repetia-se nos dias seguintes, sacramentalmente, até que inesperadamente lá chegava a véspera do grande dia, e o Armando ufano anunciava:

- Eh pá, o meu pai diz que amanhã vamos para o malagueiro, mas tens de estar pronto às oito menos um quarto.

Era o êxtase servido pela manhãzinha, e eu logo corria a demandar a minha mãe sobre os calções de banho, a touca e a toalha, para além dos vinte e cinco tostões da praxe, pois 'amanhã íamos para o malagueiro'!!!

Esse dia muito demorava a passar! Fazíamos planos, atrás de planos, sobre o que iríamos fazer, espreitavamos o céu para ver se o S.Pedro nos pregava alguma partida, mas o vôo das andorinhas e o seu chilrear, acalmava os nossos espíritos, pois era prenúncio afortunado.

No outro dia, calções e touca enrolados científicamente na toalha e presos com o cinto - é verdade, os calções de banho nesse tempo tinham cinto - postos sobre o ombro, aguardavamos o 'mestre' Vilas, projectista do Águia D'Ouro, e pai do Armando, que nos iria levar ao almejado sonho.

Saíamos da Batalha em direcção à Rua Alexandre Herculano, deslumbrando-nos com as cores das camionetas que saíam da Garagem Atlântico para Braga, Coimbra, Vila Real, destinos que para a nossa idade ficavam a idêntica distância das terras onde lutava com tigres, o incrível Sandokan.

Chegados às Fontaínhas, e passados os tanques, onde as lavadeiras tagarelavam ou cantavam (quando não discutiam forte e feio) enquanto lavavam a roupa, que mais tarde engomariam e distribuiriam pelos burgueses do Porto, metíamo-nos a descer a célebre Corticeira, cuja inclinação nos metia grande respeito (talvez temor fosse o melhor termo) e com um piso que pedia qualidades de equilibrista e sandálias velhas,ou de preferância solas de borracha, pois as novas, pareciam patins a deslizar por ali abaixo... livra!... só o pensamento arrepiava.

Pelo caminho cruzavamo-nos com carqueijeiros e padeiras que subiam carregadas com as suas mercadorias, num passo certo e estudado, em posição que arruinaria prematuramente a coluna mais resistente.

Chegados à marginal, olhavamos extasiados para o 'malagueiro', que corria impávido e sereno, com a sua cor verde-negra, e corríamos em direcção ao Sr. Américo, que no caíque aguardava passageiros para a praia do Borras.

Esperava-se um pouco, apareciam mais uns tantos e quando ele entendia, 'fechava' a entrada e rumava ao assento central, onde à força dos seus musculosos braços cruzava mais uma vez aquele rio, que nos meses de Verão, transformava aquele pescador em barqueiro e nadador-salvador.

Cinco minutos de emoção e chegavamos finalmente ao saudoso Borras.

Como a história já vai longa, para a próxima, falarei no resto.

29 agosto, 2005

Parabéns!

Hoje o Ateneu Comercial do Porto comemora a bonita idade de 136 anos.

O PJ reporta esse facto e conta algumas peripécias que vão acontecendo naquela casa.

Interessante

Até à presente hora 14:57, só o Causa Nossa, refere a interessante entrevista que Mira Amaral dá ao DN, no suplemento de negócios.

É estranho, que tantos que criticaram a remodelação na CGD feita pelo actual governo, não comentem as suas afirmações, pois é bastante ilustrativa de uma maneira de governar, que não se ajusta muito bem às teses de competência, honestidade e coerência que alguns querem fazer crer que os dois últimos governos tiiveram.

Quando se diz que:

Os ministros das Finanças das maiorias PSD/PP foram os responsáveis pela instabilidade criada na CGD, por falta de competência técnica e por incapacidade de actuarem como accionistas. A dr.ª Ferreira Leite apadrinhou um modelo para a CGD que não fazia qualquer sentido...

...Fiz um acordo de cavalheiros com o presidente do conselho de administração (António de Sousa), segundo o qual eu seria presidente da comissão executiva da CGD, das instituições especiais de investimento e do banco de investimento...

...o presidente do conselho de administração não respeitou o acordo que fez comigo e retirou-me o pelouro da banca de investimento....

...Soube, por um programa de televisão, que tinha sido demitido. O ministro das Finanças não respeitou o que tinha ficado combinado....

...O dr. Bagão Félix, para me substituir, foi buscar uma pessoa que é um grande especialista português em Assuntos Europeus, mas que não tem experiência bancária....

...Francisco Bandeira e Armando Vara eram directores da CGD quando lá estive e comportaram-se comigo com toda a competência e profissionalismo....

...Da minha experiência com os governos PSD/PP, a minha resposta foi clara. Fiz um erro estratégico quando aceitei ir para a Caixa. Julguei que na CGD podia existir uma lógica de gestão de banca privada. Percebi que a lógica de gestão e de decisão era mais politiqueira. Dando o benefício da dúvida a este Governo, mas face à minha experiência passada, mantenho a dúvida de saber se o Estado português saberá comportar-se como accionista da Caixa....


Como se torna estranho que mais ninguém ainda se tenha pronunciado!!!

28 agosto, 2005

Cantando o Porto II

A Paixão (segundo Nicolau Da Viola)

Tu eras aquela que eu mais queria
para me dar algum conforto e companhia
era só contigo que eu sonhava andar
para todo o lado e até quem sabe ? Talvez casar

Aí o que eu passei só por te amar
a saliva que eu gastei para te mudar
mas esse teu mundo era mais forte do que eu
e nem com a força da música ele se moveu

(Refrão)

Mesmo sabendo que não gostavas
empenhei o meu anel de rubi
para te levar ao concerto
que havia no Rivoli

Era só a ti que eu mais queria
ao meu lado no concerto nesse dia
juntos no escuro de mão dada a ouvir
aquela música maluca sempre a subir

Mas tu não ficaste nem meia-hora
não fizeste um esforço para gostar e foste embora
contigo aprendi uma grande lição
não se ama alguém que não ouve a mesma canção

(Refrão)

Foi nesse dia que percebi
nada mais por nós havia a fazer
a minha paixão por ti era um lume
que não tinha mais lenha por onde arder

Carlos Tê/Rui Veloso

Festa do emigrante

Não sendo os cidadãos do Porto, nos últimos anos, muito dados à emigração para outros países, estranho, que a Fundação para o Desenvolvimento Social do Porto (FDSP), volte este ano a organizar uma festividade em honra dos emigrantes, uma vez que não serão muitos os que nesta altura se encontrem por cá a gozar a beleza da cidade e seus arredores.

Mas o que é certo, é que a festa se fez, e que muita gente estava presente, o que pelo menos faz com que o evento tenha sido gozado e apreciado por muitos populares, que gratuitamente assistiram a um desfile de animadores que lhes alegrou certamente a vida difícil que vão enfrentando no seu constante e diário labutar.

Poderá dizer-se que se deu ao povo o que o povo gosta de ver, e sendo assim, fica tudo muito contente, e ala, que para o ano há mais.

Mas espera-se mais da FDSP, ou não fosse ela uma instituição de desenvolvimento social, em vez de ser para a estagnação cultural.

Isto a propósito dum programa de festas, em que o essencial era a presença de artistas de fraca qualidade, encimadas por uma vedeta brasileira que nada tem a ver com a emigração portuguesa, e que teve também a participação de dois comunicadores por excelência, esses sim, que dedicam muito do seu tempo à nossa comunidade emigrante, graças a um programa diário da RTP 1.

Haverá quem diga que é isso que o povo precisa, mas que tristeza é fazer a comparação desta festa do emigrante, com outra efectuada durante quatro dias deste mês, em Castro Laboreiro e Lamas de Mouro, e que teve muito mais gente do que esta.

Veja-se o programa:

- Feira de produtos regionais que durou de 12 a 15;
- Astrofesta 2005 - Lamas de Mouro - encontro de amadores de astronomia;
- 3º Colóquio/Debate e Concurso Tradicional do Cão de Castro Laboreiro
Lamas de Mouro dia 14
Castro Laboreiro dia 15;
- Exposição de pintura a óleo sobre tela,
"A Lua no Gerês do Pólen"
de Paulo Dacosta (A Lua) e Manuel António (Pólen) - Lamas de Mouro de 1 a 15;
- IV Congresso de História Local - Castro Laboreiro - dia 13
onde para além de temas de interesse para o conhecimento da história da região, foi apresentado o livro " O Pegureiro e o Lobo";
- Serão Temático - Lamas de Mouro - dia 14
onde foram apresentadas duas propostas de interpretação histórica, uma sobre os Templários, e outra sobre as Ordens Militares e Religiosas em Portugal;
Rally Paper;
Animação com música regional e danças folclóricas, etc.

E para isto não teve necessidade de uma Fundação com vultuosos meios, dando à população ensejo de se cultivar e divertir ao mesmo tempo, numa iniciativa que muitos fariam bem em copiar, e que é fruto da carolice de quem gosta da terra que os viu nascer.

Haja vontade e tudo se pode harmonizar.

27 agosto, 2005

Os copistas

Todos nós nos recordarmos de ouvir falar nesta profissão, e de a associar a monges a trabalhar de pé, em pergaminho amarelado, copiando laboriosamente os textos escritos ou simplesmente narrados, a quem tinha a capacidade de escrever.

Vimos já algumas belíssimas iluminuras, que nos foram deixadas por tais artífices, e que ainda hoje têm discípulos, que com muito maior facilidade as elaboram, fruto da tecnologia de que dispõem.

Mas essa antiga profissão, tem tido um ressurgimento espectacular nos últimos tempos, neste cantinho esquecido da Europa, muito embora esteja agora dotada de uma parafernália instrumental que é indispensável para o seu sucesso.

Os copistas estão aí e recomendam-se.

Basta abrir um canal de televisão e pegar no telecomando e zás... como que por milagre vemos que está a dar futebol na RTP, na SIC, na TVI, na RTPN, na RTPMemória, na RTPÁfrica e na SportTV!

Não, não é o mesmo jogo em todas, só que de repente resolveram-se copiar no tema, deixando-nos como alternativa o Canal 2.

Mas será só futebol? Vejam o caso dos telejornais... As notícias sucedem-se em catadupa com cada canal a mostar os mesmos fogos, dos mesmos locais, com as mesmas imagens, numa cópia fascinante e alucinante, que chega ao ponto de repetirem as reportagens/imagens durante dias seguidos. E se não são os fogos são os acidentes aéreos, as inundações, as misérias alheias exploradas exaustivamente até à náusea.

Ora, lá estão os copistas a trabalhar!

Se um tem uma telenovela, o outro de imediato apresenta outra no mesmo horário, no que é rápidamente copiado por um terceiro, que apresenta uma outra, numa luta desesperada para ver quem mais ganha no campeonato das audiências.

São os copistas que novamente voltam a atacar!

Mas até no que é mau se copiam, bastará olhar para a estafada repetição de séries e de filmes, e até de entrevistas, que se não atentarmos à muito bem aconchegadinha indicação de que é uma repetição, dá-nos a sensação estranha de estarmos fora do tempo.

Mas olhemos para os jornais e revistas e veremos que o panorama é o mesmo, as mesmas notícias, as mesmas abordagens, os mesmos temas, que mais parece que se combinaram uns com os outros para falar do mesmo.

E nos livros?

Se o Joaquim escreve sobre uma aventura em Saturno, a Antónia vai e fala numa na Lua, e o Joaquim disserta sobre uma expedição a Antares!

E que dizer desta nova revolução na escrita, em que todos escrevem um livro! Desde o Tino de Rans à Margarida Rebelo Pinto, há de tudo.

De vez em quando, aparece alguém de qualidade, que ao ler algumas coisas que se publicam, ganha coragem e aparece, fazendo-me acreditar que ainda não apodrecemos de todo!

Qualidade, diversidade, alternativa séria, parece que são coisas que não entram no actual panorama nacional de informação e/ou entretenimento.

Porque será?

Será da falta de visão dos editores, da miopia dos comentadores, da falta de cultura dos compradores?

Tenho cá para mim, que é apenas fruto da indiferença da classe priveligiada pela legião dos que afinal, apenas sonham em vir a ser como eles.

Quatro anos!

Muito se fala da lentidão da justiça, e com razão, ripostando os seus agentes que o excesso de processos e a falta de pessoal qualificado e instalações, contribui muito para esse estado de coisas.

Quem anda pelos tribunais, vê com espanto, que enquanto uns nadam em espaço e conforto, outros trabalham e acotovelam-se em vãos de escada procurando que a máquina ande, mas a falta de pessoal qualificado é a que mais se faz sentir.

Mas que dizer da AACS (Alta Autoridade para a Comunicação Social), entidade que visa administrar justiça mesmo não sendo um tribunal, quando demora quatro anos para se pronunciar/condenar, uma estação televisiva, pelo assalto indecoroso que fez à privacidade de uma família?

Terá a AACS falta de pessoal ou de instalações para poder actuar rápida e eficazmente... parece-me que não, mas então porquê tanto tempo!

Como a blogosfera é mais rápida que os jornais

O Público hoje traz uma notícia dada ontem no Outro,eu.

O que é pena, é que a jornalista Teresa Firmino, não tenha lido o artigo no site da BBC, onde também é assinalado que:

However, the Lancet also reports that a draft report on homeopathy by the World Health Organization says the majority of peer-reviewed scientific papers published over the past 40 years have demonstrated that homeopathy is superior to placebo in placebo-controlled trials.

in BBC News

26 agosto, 2005

Sobre entrevistas e outras aventuras

Começa a tornar-se um mau hábito, que a propósito de qualquer afastamento, não-nomeação para lugar apetecível, ou apenas por chicana político-social, se publiquem entrevistas que nada dizem, mas que mancham indelevelmente, uma maioria de pessoas que dão o melhor, contribuindo honesta e sábiamente com o seu trabalho para um Portugal mais sadio.

Claro, que o jornalismo oportunista lá está à espreita, na mira de melhores tiragens, maximizando assim o ganho, sem cuidar dos prejuízos e do opróbrio que lança sobre muitos dos que jurou defender, ao enveredar pela carreira da qual tem carteira profissional.

Investigar, solicitar aos entrevistados os nomes e provas do que afirmam, preferir não publicar sem ter a oportunidade de confirmar as suas fontes, ou, a maior parte das vezes, apenas utilizar o bom-senso, são predicados que não se aplicam à generalidade de uma classe que, na pressa de trucidar os políticos, acaba por se auto-destruir, pois as pessoas, à medida que adquirem mais e melhor educação, tendem a julgá-los mais severamente, punindo-os com a ausência de compra dos jornais e revistas em que escrevem, matando assim a fonte de alimentação que muitos julgam inesgotável!

Começa a verificar-se na sociedade portuguesa, que a generalidade dos media ou são maioritáriamente do governo, ou pertencem a grupos de interesses que cada vez mais se utilizam dos jornalistas a seu bel-prazer, quer através dos vencimentos, realmente sumptuosos à escala nacional, quer através da eterna ameaça do seu despedimento, via encerramento das publicações.

Os políticos, por seu lado, pactuam com este estado de coisas, pois sabem que tendo os jornais do seu lado, a caminhada será sempre mais fácil, e a sua estúpida mania de açambarcar todos os lugares, tem impedido o rejuvenescimento dos seus quadros, levando a que os mesmos nomes se sucedam nas notícias, ora com o posto X, ora com a categoria Y, mas sempre com as cansativas e mesmíssimas caras que connosco envelhecem desde a Abrilada.

Sob pena de nos estarmos a afastar, cada vez mais, da democracia participariva, é tempo de os que estão nos cadeirões do poder, pensem seriamente no rejuvenescimento das suas hostes, quer criando carreiras na função pública que irão substituir os chamados lugares de confiança política, quer chamando para a política, pessoas que amam o seu País procurando servi-lo, e não apenas servindo-se dele.

A revolução tem de ser grande! Parece que há, quer no governo actual, quer fora dele, pessoas que defendem os círculos uninominais como solução a seguir. Eu, por mim, olho para esse tipo de solução com uma certa simpatia, pois será mais fácil dirigir-me a um dos deputados do meu círculo, questionando-o sobre o que me interessa saber no que respeita às suas opções sobre as leis a votar, do que não ter a quem me dirigir de todo.

Claro, que isso irá ameaçar o já tão criticado centralismo partidário, e levará a que o deputado tome posições junto das cúpulas que reflictam os desejos dos eleitores que o apoiam, em vez de servir apenas de correia de transmissão àquelas.

Por outro lado, terá de justificar junto dos seus concidadãos a razão das medidas propostas pelo partido em que se insere, facilitando assim um maior esclarecimento que a todos aproveita.

O tempo é de agora e a hora está a passar, é a altura de avançar em direcção ao futuro, com cuidado mas sem temor.

E nós, os que por aqui debatemos estas coisas? Cá continuaremos, sem esmorecer na defesa de um País que não se arraste na cauda da Europa a que pertence, mas que julga que ela é a sua mãe, de peitos fartos, sempre disposta a dar-lhe mama.

Água mole em pedra dura...

Para chorar

N' O Comércio do Porto esta notícia!!!

Será que serão deste tipo, os agentes da PSP que o respeitável ministro diz estarem preparados para responder 24 horas por dia aos problemas dos cidadãos, nas esquadras do País?!

Espera-se que O Comércio continue a seguir este assunto.

Do Vinicius com saudade

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte

Outros que contem
Passo por passo
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ainda há espaço
- Meu tempo é quando

in POETICA

25 agosto, 2005

Mais um parecer sobre os Aliados

Hoje, nos Aliados.

Haverá quem discorde?!... Totalmente?!

Na OTA de Cravinho

No DN de 23 do crte., em artigo de opinião, João Cravinho, defende a teoria da OTA com alguns argumentos interessantes, mas que falham no aspecto mais importante.

Não pondo em causa que o governo para decidir este tipo de investimentos tem de utilizar a metodologia do quando, onde e como - seguramente tem razão no quando, pois é agora altura de equacionar a alternativa ao aeroporto de Lisboa - já se espalha ao comprido no onde, pois a OTA, na minha humilde opinião não serve, nem os interesses nacionais, nem tampouco os regionais, pois não passará de um sorvedouro de dinheiros públicos gastos em obra de fraca rendibilidade.

A sua localização, por não ter transportes eficientes, nem tampouco estruturas adequadas ao movimento a captar, terá de as criar aumentando assim os custos totais do investimento na zona, que não necessita a curto prazo de equipamento tão volumoso, e que à partida está limitado no seu crescimento futuro.

Ora. o crescimento da OTA, como é normal em qualquer aeroporto em qualquer parte do mundo, está à partida condenado, pois o local de implementação não suporta o aumento de pistas que deverão ocorrer no futuro, caso se venha a constituir no polo fundamental dos transportes áereos nacionais.

Por outro lado, o impacto que poderá ter nos fluxos rodo-ferroviários necessários para uma eficiente utilização do mesmo, nomeadamente no que respeita às ligações à capital, obrigará a que sejam aumentadas as faixas de rodagem nas saídas/entradas de Lisboa e na construcção de novos ramais de acesso ao aeroporto, sob pena de um estrangulamento monstruoso que paralisará a mobilidade no eixo Norte-Sul.

E que dizer das interligações ao TGV e ao transporte marítimo que certamente serão impossíveis de manter, pois não é rentável uma linha de alta velocidade OTA-Lisboa que sirva eficazmente um aeroporto em que as chegadas se processarão ao minuto.

A acrescentar a tudo isto, não se compreende como os estudos já estarão todos feitos, quando está em construcção um avião de longo curso - A380 - que pelas suas dimensões e peso já não pode operar em Lisboa e está em projecto outro da Boeing que certamente não ficará muito atrás deste e que quando os últimos estudos da OTA ainda nem sequer existiam na prancheta!

Será que iremos construir um novo aeroporto que não comporta esse tipo de aviões? E se o tráfego aéreo enveredar pela monstruosidade, como tem sido a tendência dos últimos anos, o que fazemos aos nossos aeroportos, voltamos a gastar dinheiro no seu reapetrechamento?

Seria bom, que pensassem em alternativas tais como criar estruturas para aeroportos de 'low-cost', essas muito mais baratas e que podem aguentar com outro tipo de negócio em que o tempo e a precisão não são tão necessários, enveredar por uma política de apetrechamento e modernização dos nossos aeroportos internacionais, tornando-os passíveis de operar todo o tipo de aeronaves, aproveitando a sua posição priveligiada em relação ao todo nacional, aproveitar as estruturas regionais, tais como Bragança e Beja para dinamização do interior esquecido pela metrópole que tudo engole, chamar a nós as grandes companhias de transporte de carga aérea oferecendo-lhes possibilidades de estacionamento de baixo custo, pois dinamizaremos a sua utilização, e muitas mais coisas que podem fazer.

Perguntem a quem sabe, pois há muitos que podem dar ideias interessantes, tais como as associações de pilotos, os industriais que utilizam ou pretendem utilizar esses espaços como dinamizadores das suas exportações, os operadores turísticos, e deixem-se de andar a reboque de ideias mirabolantes, que para além de desgastarem o governo em incómodas explicações pernetas, não servem o País que queremos ser.

Solução

Sente-se sózinho, abandonado, ninguém fala de si ou lhe escreve, experimente...

remédio santo...

atrase um pagamento!

Turismo no Porto

Hoje, David Afonso escreve um delicioso 'post' n'A Baixa do Porto.

Há muito que me lamento da falta de formação dos empregados de comércio portugueses, e da incapacidade dos seus empregadores entenderem o que é que significa a palavra servir.

Pode ser que alguém leia isto com atenção e tenha vontade de iniciar a mudança.

E assim vai o Mundo

Lido hoje no Cabo Raso, sobre um processo que se desenrolou num País do terceiro mundo.

Felizmente que não é cá em Portugal, um País moderno e respeitador das leis vigente e, rápido na resolução das contendas judiciais.

24 agosto, 2005

Presidenciais I

Muito já se escreveu sobre a candidatura de Soares, a de Cavaco, a do Alegre, a do Jerónimo só agora começa a ser falada, e muitas outras tem sido ventiladas, umas com mais intensidade do que outras.

Parece que muita gente ainda não entendeu que o Alegre, fruto das suas posições políticas públicas - quem não se lembra de Souselas, das tropas para o Iraque, do linchamento na praça pública do PGR, na recusa ao referendo sob o aborto preferindo que a AR legisle sobre o assunto, do seu apoio a Alzira Santos para presidente do PS depois de ter garantido o seu apoio a Almeida Santos, do que disse de Sócrates nas eleições para o secretariado nacional ainda há poucos meses, do seu eterno piscar de olhos ao PC e BE - nunca poderia ser o candidato do PS, nem tampouco de muita esquerda que não se revê em romantismos poéticos na hora de acção, preferindo lê-los calmamente em horas de descanso?

E que dizer, de outros homens e mulheres de esquerda não-comunista, que não têm nenhum candidato em que se revejam minimamente, porque parece que todos têm medo de afrontar Cavaco Silva, o providencial homem de Boliqueime, que não lê jornais e que raramente se engana!

Só de facto o patriarca Mário, o rei Mário como muitos lhe chamámos, teve os 'ditos' para dizer presente, e dar a cara por uma esquerda que se acagaça e se encolhe atrás do Sócrates, e que a maior parte das vezes nega ser de esquerda, seja lá o que isso quer dizer.

Esquerda e direita há muito que perderam o seu significado, numa sociedade que tem o lucro como resultado último, e que é comandada pelo desejo do poder absoluto a todo o custo, e que, a si mesma, atribui o conhecimento último do que é bom para a plebe que engana diariamente com o seu discurso da treta.

Mas o que nos interessa é ter um presidente que seja respeitado pelas suas posições, por muito polémicas que sejam, pois é sinal de que as tem, em vez de um seguidor de políticas alheias.

Quando olho para Soares e Cavaco, sei o que um pensa sob uma variedade de assuntos, enquanto que em relação a outro pouco mais sei do que as suas opiniões sobre questões económicas ou politiquice local.

Deixemo-los enfrentarem-se e debater ideias, pois Cavaco certamente estará mais à vontade face à por muitos desejada senilidade de Soares.

Quando olho para as críticas de JPP, VGM, Helena Roseta, Pires de Lima, e tantos outros que por aí andam, pergunto porque é que eles não se candidatam, ou será que lhes falta coragem para tanto?

Perguntas fáceis

Quem é que extinguiu o CNEFF, e atabalhoadamente meteu tudo num mesmo saco, retirando operacionalidade ao combate aos fogos e centralizando tudo num mesmo local onde se atrapalham diferentes instituições com resultados evidentes?

Alguém se lembra ou é preciso recordar!

Os disparates dos jornais

Hoje no Público:

Helibombardeiro de combate aos incêndios despenha-se na região de Viseu


O que será um helibombardeiro? Pelo nome deveria ser um helicóptero que serviria de bombardeiro (que lança bombas), mas será que andariam a lançar bombas num incêndio?!

Claro que não é nada disso, apenas um avião que também serve para apagar fogos, e que é utilizado normalmente na agricultura como pulverizador de fertilizante, distribuidor de sementes, etc.

Quem está habituado a vê-los sazonalmente sobre as nossas plantações de arroz sabe bem do que se está a falar.

Mas o engraçado é que o repórter o sabia, pois mais abaixo, na notícia, chama-lhe avião! Que raio de conversa vem então a ser a do helibombardeiro?

Quem quiser saber de como eles são, aqui vai a pista.

Isto é que é fazer Serviço Público

No JN de hoje esta notícia:

Virtudes Jardim dos socalcos

Duas únicas pessoas ilibam os 22 mil metros quadrados do Parque das Virtudes - entre a Rua Azevedo de Albuquerque e a calçada de Miragaia -, do vazio absoluto.

Uma mulher de meia idade espraia-se, adormecida, pela relva num descansado top-less protegido por um cão de estimação. Um homem, de raça negra, ocupa, contemplativo, juntamente com uma Bíblia e um dicionário de Português-Inglês, um dos muitos bancos de jardim.

"Venho para cá todos os dias, desde há 17 anos - há tantos quantos estou em Portugal -, rezar e escrever as minhas cópias", revela, descalço e em tronco nu. José Pedro tem 62 anos e vive do rendimento mínimo. Mas já fez um curso de Teologia, em Lisboa, e trabalhou num consulado. Antes do fim do ano, espera conseguir regressar a África.

"Assisti às obras de recuperação deste parque, que é lindo", considera, apontando de rajada os defeitos que não pode "perdoar". "Os guardas não se comportam devidamente", sentencia o sacerdote evangélico, que assegura ter "visto, sete vezes e cara-a-cara Jesus Cristo no parque".

"Os guardas", continua numa voz sussurrada, "não são fiéis. Levam as namoradas para os bunkers que existem aqui. Como nunca vem cá ninguém, eles pensam que ninguém sabe. Mas eu sei. Vejo-os a sair de lá, dos bunkers", insiste. "E isso é mal criado. Um parque destes merece pessoas com mais reputação. Isto é para repousar; não é para namorar".

Ambíguos castigos à parte, o parque das Virtudes, reaberto ao público em 2003 - um dos muitos recuperados nos mandatos do autarca socialista Fernando Gomes -, desdobra-se em verdes socalcos, pontilhados por vários lagos e fontes barrocas com água corrente. Está cercado por um corredor de claustros pertencentes à antiga Casa das Virtudes e paredes amarelas ainda não redescobertas pelos grafitters. De qualquer ponto é possível avistar o rio Douro e, ao fundo, boa parte da cidade de Gaia.

Fértil em curiosidades, o parque, onde no século XIX funcionou o Horto das Virtudes, apresenta, logo à entrada, 17 tanques paralelos, nos quais era comum as mulheres lavarem roupa.

A ser verdade que há pecados no parque das Virtudes, eles parecem resumir-se a dois desperdício de um bem essencial e escasso. Os tanques, inutilizados, continuam a escorrer abundantemente água da companhia. E desperdício ainda maior de um recinto inteiro, que antes de ser recuperado do vandalismo e abandono a que estava votado, era frequentemente criticado pelos portuenses. Agora, que beneficia de condições raras de qualidade, todos parecem ter-se esquecido de o frequentar. O parque, vigiado 24 horas por dia, abre os portões às nove da manhã e encerra-os às 22 horas da noite.

Reproduzido da edição on-line do JN

Acordou

No fim do seu segundo mandato o nosso PR acordou, e concluiu que é preciso um debate (mais um) sobre reestruturação e limpeza coerciva da floresta!

Pede uma meditação séria sobre a reestruturação florestal e diz que é preciso ir à raiz do problema!

Estranho, que ao fim de assistir a tantos disparates legislativos e políticas sem sentido, só agora se lembre do que deveria ter sido uma das suas principais preocupações, mas pelos vistos deveria andar mais preocupado em encontrar alguém para medalhar no Dia de Portugal, ou no seu handicap no golf, em cujos greens se gasta muita água que nos faz falta para outras coisas mais importantes.

Agora, num brilhante lampejo, concluiu de rajada, que a maior parte da floresta está mal limpa e é posse de particulares que deverão ser castigados por não tratarem da limpeza a tempo e horas!

Onde terá estado até agora esta eminente figura, que nada disse quando as verbas para a vigilância florestal foram cortadas, quando assistiu impávido e sereno à centralização em Lisboa de empresas e populações deixando o interior do País ao Deus-dará, que como supremo comandante das forças armadas nunca decidiu avançar com instrucções no sentido de serem preparados os militares para o combate aos incêndios e vigilância da floresta, que permitiu com o seu silêncio que se gastassem rios de dinheiro em equipamentos sem pés nem cabeça para as corporações de bombeiros que não têm uma política de compras estruturada e eficaz, porque será que nunca fomentou a discussão sobre as espécies que deviam ser utilizadas para reflorestar as áreas ardidas nos seus oito anos de ocupação do trono!

Este PR, foi dos que menos serviu o País, criando instabilidade em todos os governos que com ele trabalharam e permitindo golpes palacianos que só agravaram as distorções existentes na data em que tomou posse.

Se fosse inteligente, aproveitaria para gerir o silêncio que tão bem sabe guardar quando lhe convêm, e partiria em paz, não tendo deixado obra de que nos ufanemos, nem sendo aquilo em que muitos acreditavam que ele poderia ter sido.

Vade in pace

23 agosto, 2005

Os cegos também votam

Estava a ler um artigo de opinião de João Cotim Oliveira e veio-me de imediata à ideia o título deste 'post'.

Diz o cronista a certo ponto:
"A sua continuidade e da sua equipa é necessária para que o projecto iniciado em 2001 e duramente realizado ao longo deste mandato não seja posto em causa.",
e mais adiante:
"Todas as obras inacabadas, da zona oriental à zona ocidental da Cidade, que na debandada dos festejos do “Porto, Capital da Cultura 2001”, a anterior Câmara deixou por concluir o actual Executivo Camarário terminou.".

Se isto não é apenas exemplo de maledicência, o que será? Será que o João Cotim pretendia que a anterior Câmara acabasse as obras da Porto 2001 antes de a Porto 2001 ter acabado, uma vez que as eleições decorreram antes do final daquele evento?!

E depois segue:

"Em 2001, o Porto até pelo ar tristonho e a fuga dos seus habitantes, parecia uma qualquer cidade do terceiro mundo. Hoje, passados quatro anos, é comparável a qualquer grande metrópole europeia."

Será que eu estou a ler isto, ou é apenas sonho! O Porto actual pode competir com Barcelona, Bordéus, Milão, Cardiff, Colónia para já não falar noutras mais importantes!

Este senhor, terá já passeado por Mouzinho da Silveira, Sá da Bandeira, 31 de Janeiro, Flores, Taipas, Rodrigues de Freitas, Sampaio Bruno, Clérigos, para apenas falar na zona da Baixa que o seu amigo prometeu reabilitar!

Depois como não tem mais nada para acrescentar a não ser o hipotético saneamento financeiro, resolvido à custa de nada fazer, e de uma propalada reestruturação administrativa onde colocou pessoas da sua confiança e amizade, deambula pela história alemã, chama imbecis aos que não pensam como ele, embora se considere perplexo com o afastamento de Paulo Morais!!!

Afirma ainda que Paulo Morais irá ter um "lugar na história... de Portugal" como se tal personagem tivesse sido para o Porto o que foi um Almada, ou pelo menos um Aires de Gouveia para não falar em ilustres estrangeiros que tanto fizeram pela cidade.

Como não tem mais matéria para apontar como obra feita, desata a desancar nos opositores, dizendo que uns não são da cidade e por isso, pelos vistos, não poderão nada fazer por ela, que são defensores "do modelo repressivo soviético", que ofereceram a Câmara ao Pinto da Costa, e outros disparates do mesmo quilate, que me fazem lembrar as histórias do bicho papão que se contavam às criancinhas.

O Rui Rio, que até nem é burro, é que deve arrepelar os cabelos ao ler apoios deste tipo.

Não há quem meta mão nisto!

Foguetes animam festas, enquanto fogos alastram
23.08.2005 - 08h31 Celeste PereiraTânia Laranjo (PÚBLICO)


Uma festa popular em S. Gens, Gondomar, com lançamento de fogo-de-artíficio à mistura, acabou por provocar um incêndio, anteontem de manhã, que demorou mais de 12 horas a ser combatido.

Uma situação que continua a verificar-se com regularidade - o lançamento de foguetes ou fogo-de-artíficio -, numa altura em que o país se vê confrontado com centenas de incêndios, com as consequências conhecidas.

"Em Gondomar, o presidente da câmara estava na festa. Foi lançado o fogo-de-artifício e, minutos depois, deflagrou um incêndio nas proximidades. Estivemos lá mais de 12 horas, o fogo só foi circunscrito pelas 22h, e depois ainda demorou até ter sido extinto. É uma vergonha que continuem a brincar com a vida de todos nós", disse ao PÚBLICO um bombeiro que esteve no combate ao incêndio, que chegou a obrigar ao corte da marginal na Foz do Douro.

Este, no entanto, não é caso único. No passado fim-de-semana, também cerca de 15 minutos de fogo-de-artifício fizeram a delícia de centenas de pessoas em Angeja, a poucos quilómetros de Aveiro. Numa altura, claro, em que o distrito permanecia em alerta máximo e onde o risco de incêndio era elevado.

Outro exemplo paradigmático aconteceu a semana passada, em Vila Real.

O violento incêndio que desde domingo à noite lavrava no Parque Natural do Alvão estava no seu auge - havia inclusive aldeias ameaçadas -, quando a escassos quilómetros, em Lordelo, disparou um pomposo fogo-de-artifício. Durante largos minutos, os foliões deliciaram-se com a beleza do espectáculo pirotécnico, quando, não muito longe, muitos bombeiros lutavam, no limiar das forças, tentando desviar as chamas das povoações.

O espectáculo pirotécnico de Lordelo constitui ainda um exemplo emblemático: chegou a estar programado para o dia anterior, mas, nesse dia, lavrava um incêndio nas proximidades e todos os meios de combate a fogos do distrito transmontano, bombeiros e viaturas, estavam ocupados com inúmeros fogos que deflagraram um pouco por todo o lado.

"Como é que se podia autorizar a deslocação de um carro de bombeiros para um arraial, quando tínhamos o distrito a arder?! O povo não iria perdoar uma coisa dessas. No distrito de Vila Real já tivemos a morte de dois cidadãos, um dos quais bombeiro, inúmeras casas ardidas, pessoas que ficaram sem nada... Não podemos andar a brincar aos incêndios. Bem basta a malvadez de quem os ateia!", sustenta António Martinho, governador civil de Vila Real.

Na terça-feira, contudo, a comissão de festas de Lordelo conseguiu finalmente fazer vingar o seu intuito, apesar de a escassos quilómetros estar a lavrar o fogo do Alvão que rapidamente se transformou no pior incêndio de todos os tempos da história de Vila Real. O governador-civil de Vila Real não entende a insistência popular nos espectáculos pirotécnicos: "Lamento profundamente que, em condições tão adversas como as que vivemos este ano, com elevadas temperaturas e falta de humidade na atmosfera e nas plantas e em situações de vento inconstante e muitas vezes forte, haja o arrojo de deitar fogo-de-artifício."

O lançamento de fogo-de-artifício encontra-se regulamentado através do Decreto-Lei nº 156/2004 de 30 de Junho, que estipula que, em todos os espaços rurais, durante o período crítico - leia-se época oficial de fogos -, o "lançamento de foguetes, de balões com mecha acesa e qualquer tipo de fogo-de-artifício ou outros artefactos pirotécnicos não são permitidos, excepto quando não produzam recaída incandescente". Estas restrições mantêm-se fora do período crítico, desde que se verifique o índice de risco de incêndio de níveis muito elevado e máximo. A competência para a concessão da licença para o lançamento de foguetes pertence à PSP ou à GNR dos respectivos municípios e "depende do prévio conhecimento das corporações de bombeiros locais, com vista à tomada de indispensáveis medidas de prevenção contra incêndio". Ainda de acordo com a legislação em vigor (DL nº 376/84), o lançamento ou a queima de foguetes ou quaisquer outros fogos-de-artifício "só poderá ser efectuado por pessoas tecnicamente habilitadas, mediante licença concedida pela autoridade policial de cada município".

22 agosto, 2005

Esta vem dos USA

Na Causa Nossa com a devida vénia:

O que é giro é ver que ainda há alguns que hoje ainda pensam ou dizem, o que não é o mesmo, que o Bush foi para lá porque estava preocupado com a democracia no Iraque...

Falta de meios

Recorrentemente quando se fala em incêndios, vem à baila a propalada falta de meios.

Mas falta de meios em quê? Em viaturas, em pessoal, em equipamento, em formação, ou um pouco em todas as coisas?

Quando ouço dizar que para combater o fogo x estiveram 100 homens com 24 viaturas, ou que no fogo y estiveram 60 bombeiros com 19 viaturas, ou ainda que 3.000 bombeiros, 800 viaturas e 30 meios áereos estiveram em simultâneo a combater os fogos no passado fim-de-semana, fico na dúvida de quantos meios serão necessários para que algumas pessoas que se afirmam honestas, entendam que não é um problema de meios que leva a que neste momento o País esteja mais pobre.

Portugal, nunca poderá ter meios aéreos próprios ou qualquer outros, em quantidade suficiente para apagar os incêndios se continuar com a política florestal que vem sendo seguida desde o tempo do Salazar - que para alguns inteligentes foi o melhor que nos podia ter acontecido em termos políticos no século passado - e que ainda não foi invertida.

Por muito que se gaste em equipamento e formação, e por mais boa vontade que haja, a não se alterar nada no próximo repovoamento florestal, não tenhamos dúvidas que os nossos netos continuarão a viver os mesmos problemas, pois uma árvore não nasce em meses, anos ou lustros, basteria ter lido Eça para o sabermos, mas como não se ensina Eça nas escolas, ninguém parece sabê-lo.

Apoiar as espécies nativas, controlar a eucaliptação e pinheirização do País, criar hábitos com a criação de percursos florestais, repovoar as zonas ribeirinhas com espécies que possam servir de suportes à fixação de vida animal selvagem, são passos a dar tão importantes como a construcção de corta-fogos em zonas de mata densa, limpeza de manta morta ou reordenação da propriedade agrícola.

Não será preciso ser muito inteligente para ver a evidência que está à frente dos nossos olhos, não é clamando pelo governo ou pela instauração de estados de calamidade que vamos lá.

Chegou o futebol

O Primeiro-ministro já poderá ficar mais descansado, pois os incêndios rapidamente irão cair no esquecimento, pois chegou a época futebolística.

Os noticiários cada vez irão ser mais curtos e trarão mais peças sobre o que fez o jogador fulano, o que disse o dirigente sicrano, o que comentou o 'sinhor manjor', porque é que não chega o avançado para o clube lá da terra, o que se disse no programa "os não-sei-qantos-da-bola-no-dia-seguinte", e por aí fora.

Vão "incendiar-se" os estádios, os adeptos, os títulos dos jornais diários desportivos, os comentadores, os grupos do café com os seus treinadores de bancada, e muitos irão à bola para dar vazão à frustração de não saber ler nem escrever, de não ganhar tão bem como o vizinho do lado, de ter só dois telemóveis que não são de 3G, do patrão não lhe ligar nenhuma, de não ter casas decentes para alugar, de ter de gastar uma fortuna para os filhos se licenciarem e depois ter de os sustentar em casa, pois não há empregos de qualidade para a ganapada, de não se poder reformar aos quarenta e cinco anos de idade por ter trabalhado apenas quinze, mas com as majorações e prémios é como se lá andasse há trinta e cinco, etc.

Vai voltar a estupidez dos comentadores, que irão repetir mais uma vez, como já o começaram a fazer ontem, que a falta do Zé-que-chuta, foi de facto uma falta, mas que era tão pequenina, que o árbitro não a devia ter assinalado, mandando assim o regulamento às malvas, apenas para satisfação do grupo a que pertencia o Zé-que-chuta, mesmo que os da outra equipa ficassem fulos e a puxar os cabelos gritando que estavam a ser roubados.

Vai reduzir-se certamente o espaço destinado a filmes, séries estrangeiras de qualidade, ou eliminar programas em que se discutem assuntos de interesse para todos, mas que são uma seca do 'carago', em benefício de mais meia-dúzia de horas cheias de adeptos dos três grandes - nunca percebi porque é que continuam grandes mesmo que não ganhem nada fora de portas - a comentar as decisões dos treinadores, dos outros opinadores, ou apenas a dizer mal das equipas de que não são sócios, numa parolice que raia o absurdo num universo kafkiano que só os portugueses conseguem entender.

Vai continuar a assistir-se à habitual falta de respeito pelos árbitros, com os jogadores a discutirem e a fazer magotes à volta dos mesmos, incluindo até pequenas agressões, mostrando que quanto mais ganham mais mal educados são, e os seus mentores a desculpar todas as suas atitudes lembrando que o jogo é para homens de barba rija, quando a maior parte dos que lá andam ainda não têm barba e se se vissem confrontados com algum magricela mal vestido num beco à noite, transformariam o branco dos calções numa outra cor mais ecura que nos lembra imediatamente algo que habitualmente fazemos em privado.

Eu, que até gosto de futebol, gostava de ver jornalistas, comentadores e dirigentes a criticar a falta de respeito que impera dentro das quatro linhas, a polícia a zurzir nas claques que não se sabem comportar, a Federação a multar dirigentes por incitamento à zaragata, o Sindicato dos jornalistas a retirar a carteira profissional a quem não tem qualidade para escrever e só serve para exaltar os ânimos dos pseudo-contendores, os professores a ensinar nas escolas que a competição não é sinónimo de batalha campal, e que a ministrada desse o bom exemplo de criar uma campanha de boa educação no futebol.

A ser assim, poderá ser que vá mais gente encher os estádios, os bilhetes possam baixar de preço, o espectáculo mereça ser visto, e que enfim, o futebol passe a ser a festa que já foi em tempos, em vez de ser apenas uma indústria na mão de patos-bravos e arrivistas que procuram fazer fortuna fácil.

21 agosto, 2005

Seremos de facto assim?

Num destes dias, mão amiga fez-me chegar às mãos um papelucho - sim ainda há quem escreva em papéis e não unicamente em teclados - que jocosamente definia os portugueses assim:

Ser português é:

Recusar e-mails sobre o que se passa no mundo porque acha que não tem nada a ver com o assunto;
Levar a vida mais relaxada da Europa mesmo sendo o último em todas os indicadores;
Levar arroz de frango para a praia;
Guardar aquelas cuecas velhas para polir o carro;
Ter tido a última grande vitória militar em 1814;
Guiar como um louco e ninguém se importar com isso;
Ter sempre marisco, álcool e tabaco a preços de saldo;
Receber visitas e ir logo mostrar a casa toda;
Avisar com os máximos os outros condutores de que há polícia mais adiante;
Ter o resto do Mundo a pensar que somos uma província espanhola;
Exigir que lhe chamem doutor, mesmo que seja apenas analfabeto;
Passar os Domingos no "shopping" a divertir-se com a família;
Tirar a cera dos ouvidos com a chave do carro ou com a tampa da esferográfica;
Açaçinare o Pertuguês ssempre que izcrebe;
Ir à aldeia aos fins-de-semana com a desculpa de visitar os pais ou os avós, mas apenas para mostrar que agora mora na cidade;
Gravar os Donos da Bola;
Ter diariamente, pelo menos oito telenovelas nas TV's;
Ter filhos baptizados e de catecismo nas mãos, mas nunca por os pés na Igreja;
Já ter "ido à bruxa";
Ir de carro para todo o lado, mesmo que isso signifique gastar mais tempo;
Viver mal e porcamente e encolher os ombros sempre que é questionado sobre as medidas do governo;
Dar Graças a Deus por não ser espanhol;
Morrer a dizer que 'vai andando' mesmo que esteja à espera há cinco anos pela cirurgia ao coração;
Lavar o carro na fonte mais próxima aos Domingos;
Apanhar com as piadas dos brasileiros, mas só contar anedotas de alentejanos;
Viver em casa dos pais pelo menos até aos 30;
Estar numa bicha duas horas com uma senha na mão para pagar uma conta a um estado, que não se sabe organizar nem para receber dinheiro;
Ter bigode e ser baixinho;
Conduzir sempre pela faixa da esquerda;
Ter pelo menos três telemóveis;
Jurar não comprar azeite espanhol nem morto, quando a maioria do azeite vendido em Portugal é espanhol;
Ir sair mas deixar a telenovela a gravar;
Organizar jogos de futebol entre solteiros e casados;
Ir à bola com um bilhete da 'geral' e saltar para a 'central';
Gastar uma fortuna com telemóveis, mas pensar duas vezes antes de ir ao dentista;
Petiscar Super-bock's, tremoços e caracóis;
Conseguir cometer três infracções ao código da estrada em 5 segundos;
Passar quatro horas preso no trânsito de fim-de-semana,, para ir à praia durante duas horas;
Ir para o Algarve em Agosto;
Ir passear de carro ao Domingo para a marginal;
Abafar de inveja quem tem ideias, com a habitual frase: - Lá vem aquele com mais ideias originais!
Dizer 'prontos' no final de cada frase.

Li, reli e vejo imensas similitudes com gente à minha volta.


O Bolhão aí está de novo.

Agora a batata quente está nas mãos do LNEC.

Vamos a ver agora, como é que o LNEC actua. Se rápida e decididamente, ou se por motivo de férias vai deixar o Bolhão suspenso da sua actuação.

Estranho, ou talvez não

No PJ de hoje, um interessante artigo referente a uma deliberação da Câmara de Pombal!

Não é o presidente desta mesma Câmara que anda a reclamar pelo estado de calamidade, mesmo depois de lhe ter sido explicado que, do modo que a legislação actual está feita, os seus munícipes saíriam claramente prejudicados com a medida?

E que dizer de uma Câmara que penalizava com taxas quem pretendia reflorestar área ardida até esta data?

Este presidente de Câmara não será um espelho da demagogia de muitos que por aí andam a protestar contra os governos, quando actuam em desconformidade com o que é razoável e útil para as zonas que se propuseram servir?

20 agosto, 2005

XV Feira de Artesanato

Ainda bem que abriu a Feira de Artesanato, na Foz, senão morria de pasmo!

'Bora lá p'rá feira, e biba o S. Bartolomeu.

Corto Maltese

Faz hoje 10 anos que Hugo Pratt morreu e com ele levou Corto Maltese em aventura que só iremos partilhar na hora da partida definitiva.

Este marinheiro, meu companheiro de fuga do quotidiano, que se passeava pelos mares do Sul, com o seu desprendimento poético, misto de pirata-cavalheiro, faz-me falta, pois neste mundo cada vez mais vergado ao poder de el-rei dinheiro, onde cirandam criaturas com interiores podres e bafientos travestidas em borboletas de vivas cores, será necessária forte barrela, com material cáustico q.b., para podermos reencontrar o Norte há muito perdido e que urge redescobrir para uma maior tranquilidade para os que se importam.

De rir e chorar por mais

No Dias com árvores, este interessante texto que mostra como somos especialistas em ser complicados!

Infelizmente, esta é a prática corrente em muitos edifícios que estão sob a alçada dos poderes públicos, que leva a que muitos amantes da fotografia percam pormenores deliciosos e acabem por arrumar o material fartos de ter de aturar o surrealismo nacional.

Atão?

Já cá estão fora os estudos sobre a OTA e o TGV?

Não? Pois até parece, pois de repente ficou tudo tão calado.

O que é engraçado é ainda não existir nenhum estudo sério a condenar estas opções, uma vez que pelos vistos, desde os 13 economistas, até aos inflamados 'opinion-makers', passando pelos "bloguistas" habituais, apenas dizem o que lhes parece e não o que sabem, ou não será assim?

Já o governo, calado que nem rato, afadiga-se a preparar os estudos que deveria ter lido muito antes de divulgar as suas intenções.

Afinal como é?

Hoje, no DN, fala-se na entrevista dada por Carmona Rodrigues à Sábado, onde pelos vistos afirmou que a não-inclusão nas listas de um elemento da Nova Democracia, por oposição do PSD, poderia arranjar-se, no futuro, por "outra forma de participar, algo ligado à autarquia, que poderia passar por uma consultoria ou outra coisa"!!!

Nos 'blogs' mais credenciados da praça, o assunto parece que foi omisso, pois andam preocupados com o Manuel Alegre, com o Sócrates, com o futebol, com as intrigas no PS, o subsídio de renda do ministro, e outros assuntos de suma importância...

Claro, que isto cheira a compadrio e aliciamento com os dinheiros públicos, para não falar já em sem-vergonhice ou mesmo trafulhice.

Em qualquer País que se orgulhasse de ter princípios, seria o suficiente para abrir os noticiários e primeiras páginas de jornais, cá por casa, é já tão corriqueiro, que ninguém liga.

Olha se fosse alguém de esquerda a oferecer lugarinhos a apoiantes, as cobras e lagartos que por aí andavam já.

As melhoras, meninos...

Bom Português (II)

Sub-título no Público de hoje:

17 militares espanhóis mortos no Afegnistão homenageados

Afegnistão?! Onde será esse País...

19 agosto, 2005

Excerto

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Un pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe d'asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

...

in Quási - Mário de Sá-Carneiro

Mais um

Desta vez calhou ser o Sócrates.

Segundo O Primeiro de Janeiro Sócrates anuncia que após o Verão, o governo irá apresentar um plano de prevenção dos incêndios.

Espera-se que ao menos desta vez, o plano seja para ser levado a sério, tenha financiamento para andar, e envolva todos os agentes ligados a este fenómeno, desde os bombeiros, forças armadas, protecção civil, GNR, sapadores florestais, polícia judiciária, passando pelos meios de comunicação social que deveriam obrigatóriamente e gratuitamente inserir pequenos espaços dedicados à prevenção de fogos, com recomendações fáceis de memorizar, bem como divulgação sobre a prevenção nas escolas e à população em geral.

Avisos colocados estratégicamente, vigilantes distribuídos harmónicamente, apoio ao voluntariado na área da protecção e detecção, seriam passos a dar, sem grandes custos e com resultados interessantes.

A não ser assim, será apenas mais um processo de intenções que não nos levará a parte nenhuma, e que falará no reflorestamento, ordenamento territorial, meios a comprar, tudo obras de crescimento lento e custos elevados que já muitos primeiros-ministros anunciaram, mas que pelos vistos não passaram disso mesmo... intenções e gastos.

Mercado do Bolhão - petição

Quem quiser subscrever a petição bastará ir aqui

Estou a ficar famoso!!!

Depois de ter ultrapassado a fasquia das 100 visitas ;-), já me dedicam espaço específico!!!

Vou já comprar uma babete, e convidar os amigos para uma festa!


18 agosto, 2005

Aliados

As obras continuam, pelos vistos, ou os portuenses não conseguem fazer ouvir a sua voz, ou andam embalados com o regresso do futebol! É forte pena, pois iremos perder mais um espaço que muitos se habituaram a cruzar, e por vezes até parar, para admirar o esforço dos jardineiros da CMP no seu constante alindamento.

Dizem por aí, que somos avessos a este tipo de espaços. Não o creio, pois o que acontece na maior parte das vezes, é que não há um bebedouro público a funcionar para mitigar a sede, nem uns sanitários abertos e modernos para permitir o alívio a quem por lá se encontre, os lugares para abancar estão sujos e degradados e alguns a ameaçar ruína, não existe comércio que suporte aqueles lugares pois ou foram engolido pelos bancos, ou as suas envolventes estão cheias de autocarros, que fazem do espaço entre paragens parque de estacionamento, semáforos que dão uma prioridade absoluta ao automóvel em detrimento do peão, passadeiras inexistentes, estacionamento abusivo, eu sei lá.

As razões são tantas e tão variadas de lugar para lugar que é difícil falar em todas.

Criem as condições de permanência e depois vejam se os portuenses não se tornam utentes.

Ninguém ía ao Parque da cidade quando ele não tinha condições para tal, a marginal da Foz passou a ter mais utentes depois do seu arranjo, no Palácio de Cristal a frequência aumentou depois do espaço ter sido arranjado.

Não valerá a pena lutarmos pelos Aliados?

Alarvidades

Que os pequenos políticos se entretenham na arte do insulto, quer porque lhe faltem ideias, argumentos ou até o dom de palavra, não é coisa que me admire muito, pois num país de analfabetos e iletrados, os políticos terão obrigatóriamente de reflectir a sociedade a que pertencem, mas que os nossos homens da ciência e das letras o façam em artigos de jornais, em entrevistas na rádio ou na televisão, já me parece mais grave.

Ora, todo este arrazoado vem a propósito de um artiguinho, que o Vasco da Graça Moura (VGM), hoje escreve no DN sob o título Mais de duas vezes .

Para além de elaborar uma curiosa tese sobre as palavras do António Costa (AC), e concluir que na Língua Portuguesa a expressão mais de duas vezes obrigatóriamente quererá dizer menos de quatro vezes, VGM, parte daí para em prosa verrinosamente satírica se atirar como gato a bofes ao primeiro-ministro e ao dito (AC) e aos socialistas em geral!

De passagem, numa boçalidade sem sentido, crisma de empavonado Doutor Lambisgóia, alguém que não tem a coragem para nomear, não vá cair-lhe no lombo forte bengalada, que o derreie de vez, não estivesse ele já ajoujado ao PSD e seus mandantes, num permanente louvaminhar que entedia os menos propensos à bajulice.

Mas o mais interessante é ler com atenção este VGM, que parece condoer-se com a situação dos pobres portugueses que muito perderam neste saga anual dos incêndios estivais, mas que insidiosamente mete pelo meio da croniqueta a calamidade pública como se estivesse a falar sériamente da mesma e não apenas a servir-se do termo para glosar, no seu estilo neo maneirista, as férias do primeiro-ministro.

Finalmente, aproveita para passar o pano e a graxa nos seus antigos patrões, como se estes não tivessem nenhuma responsabilidade no que acontece actualmente, e que só a cegueira partidária desconhece ou melhor, faz por desconhecer.

Se tivesse efectuado oportuna consulta a quem sabe, poderia ter visto que muito embora as condições climatéricas sejam mais gravosas do que em anos transactos, felizmente ainda estamos bastante longe das áreas ardidas nos consulados de Durão Barroso, devidos à inflexão nas políticas seguidas pelos governos anteriores.

Que VGM era a cara da cultura no PSD, já há muito se sabia, que tinha passado a ser o 'bobo' da corte, é novidade que muito me entristece, pois Portugal merecia melhor.



Sobre a língua portuguesa

Nuno Gaioso Ribeiro, numa interessante crónica no Diário Económico, no seguimento do que Vital Moreira vem escrevendo no causa nossa.


17 agosto, 2005

Escrever

Se eu pudesse havia de... de...
transformar as palavras em clava!
havia de escrever rijamente.
Cada palavra seca, irressoante!
Sem música, como um gesto,
uma pancada brusca e sóbria.
Para quê,
mas para quê todo o artifício
da composição sintáctica e métrica,
este arredondado linguístico?
Gostava de atirar palavras.
Rápidas, secas e bárbaras pedradas!
Sentidos próprios em tudo.
Amo? Amo ou não amo!
Vejo, admiro, desejo?
Ou não... ou sim.
E, como isto, continuando.

E gostava,
para as infinitamente delicadas coisas do espírito
(quais? mas quais?)
em oposição com a braveza
do jogo da pedrada,
da pontaria às coisas certas e negadas,
gostava...
de escrever como um fio de água!
um fio que nada traçasse...
fino e sem cor... medroso...
Ó infinitamente delicadas coisas do espírito...
Amor que se não tem,
desejo dispersivo,
sofrimento indefinido,
ideia incontornada,
apreços, gostos fugitivos...
Ai, o fio de água,
o próprio fio de água poderia
sobre vós passar, transparentemente...
ou seguir-vos, humilde e tranquilo?

Irene Lisboa

Os jovens bombeiros

Preocupadíssimos, os bombeiros profissionais vieram a lume apontar o dedo aos seus congéneres voluntários de que estariam a utilizar jovens para apagar incêndios.

Se, à partida, o alerta é consciente, e denota interesse pela segurança dos seus homólogos voluntários, por outro lado, e em face dos dados até agora recolhidos, parece-me que a publicidade que se pretende dar ao assunto, mais não visa do que alimentar a guerra surda que se desenrola entre estes dois corpos de soldados da paz, que pretendem ocupar os espaços uns dos outros.

Os jornalistas pegaram logo no assunto, e amplificaram-no, no seu hábito muito próprio de fazer notícias. Não investigaram, não foram procurar exemplos, não se meteram a colher imagens que apoiassem o alerta, nada... só serviram de correia de transmissão.

Interessante, que numa época de fogos intensos, se esteja a levantar o problema públicamente e não junto das instâncias próprias, pois seria obrigação primeira dos responsáveis pelas associações do sector profissional, que terão os dados que lhes possibilitaram prestar as informações aos orgãos de comunicação social fazê-lo, em vez de vir para a praça pública com queixas genéricas, pedindo ao MAI para investigar o assunto, como se neste momento não houvesse mais nada que preocupasse os colaboradores daquele ministério.

Num País em que o trabalho infantil é quase um logotipo de identificação, em que ninguém se importa com miúdos em passagens de modelos, a vender jornais, a pastorear rebanhos, a servir às mesas, a trabalhar em fábricas, como artistas de circo, a servir de actores em séries televisivas, abandonados na rua, espancados pelos pais, estupidificados pelas televisões e jogos de computador, e muitas coisas mais, é interessante verificar a preocupação que os media e os bombeiros profissionais lhe dedicam neste assunto.

Será interesse real ou apenas corporativo?

16 agosto, 2005

Coelhos e caçadores

Segundo o Expresso Online, a Federação Nacional de Caçadores e Proprietários (FNCP), afirmou que uma grave doença está a atingir coelhos e lebres, e que, segundo relatórios de médicos veterinários a que Eduardo Biscaia, secretário da FNCP, teve acesso, poderá vir a infectar humanos.

A FNCP exigiu que o Ministério de Agricultura tome uma posição.

Estou completamente de acordo com tal pedido, e gostava que o Ministério agisse rápidamente e em força, esclarecendo a opinião pública.

A ser verdade a informação, há que perguntar aos veterinários que correram a alertar a FNCP porque é que não avisaram as estruturas próprias para o efeito e puni-los em conformidade.

Se não for verdade, as conclusões são óbvias, e deveriam ser todos os que estão envolvidos nesta tão curiosa comunicação, ser objecto de julgamento nas instâncias próprias, e sancionados de acordo com o alarme e prejuízos causados.

De notar, que a FNCP é defensora das zonas de caça livres e não se coibiu de afirmar que a doença proveio de importações clandestinas efectuadas para coutadas nacionais.

Sobre o TGV e a OTA

Um bom artigo no JN de hoje. A ler com atenção

Aguarda-se resposta

Carta à ministra da Cultura

Senhora Ministra da Cultura

Excelência:

Como é do conhecimento de V.Ex.a, a entidade prorietária do jornal "O Comércio do Porto", Prensa Ibérica, de Espanha, cessou a publicação daquele jornal no fim do mês de Julho passado.
Com 150 anos de publicação contínua, este diário portuense arquiva pedaços importantíssimos da História da Cidade do Porto, do Norte e, até, do País.

Tendo conhecimento da possibilidade de o arquivo do jornal poder, na sequência do processo de extinção, vir a ser desviado para Espanha, solicito a V. Ex.a, como portuense e na qualidade de ex-deputado à Assembleia da República que, ante a indiferença do Senhor Presidente da Câmara Municipal do Porto, sejam tomadas todas as medidas possíveis que inviabilizem tais intenções, com recurso, se assim for o caso, a providências cautelares junto dos Tribunais portugueses.

Creia-me V.Ex.a disponível para todos os esclarecimentos entendidos por convenientes e, desde, já muito grato pelas diligências que vierem a ser efectuadas,

Com os melhores cumprimentos,
António Sousa Pereira

in O Comércio do Porto

15 agosto, 2005

Sobre os incêndios

Publicado n' o sexo dos anjos um artigo de Paulo Varela Gomes, que vai ao encontro de algo que por aqui já foi escrito.

Desolador

No Dias com Árvores duas fotografias de uma requalificação granítica!

Como bem se pode ver, o aspecto solitário do espaço é sintomático do benefício que tal intervenção deu ao local.

No jardim fronteiro, aconteceu o mesmo, e pelos vistos, o mesmo acontecerá na Av. do Aliados pelas fotografias que aqui estão.

Quem nos acode?

14 agosto, 2005

A ler com atenção

Na BLOGUITICA e com a devida vènia.

Lágrimas de crocodilo

Mais uma vez um taxista foi assassinado! O jornais relatam o facto e fazem eco dos diversos queixumes dos profissionais do ramo e das suas associações, mas onde está a novidade?

Há quantos anos andamos nisto?

Afinal quem são os culpados destas situações?

Existe uma lei de 1998, pois é... fez 7 anos em Janeiro passado, que deveria estar regulamentada na sua totalidade mas que não está! E de quem é a culpa?

Mas... espera, há já regulamentação sobre o vidro separador que poderia ter salvo vidas há já muito tempo!!!!!!

Afinal o que se passa?

Ai, não me digam que os taxistas não querem?! Quê? Não são os taxistas?! São as associações de taxistas?! Mas de quem são essas associações? Não são dos profissionais do sector?!

Aaaaah!!!!! Pelos vistos é uma questão de custos... Há industriais que querem, outros que não querem, entretanto os interessados parece que só acordam quando mais um vai parar ao cemitério ou hospital e fazem generosas manifestações de solidariedade...

Pois, a culpa é dos governos... Sim..., talvez..., porque não..., já agora são os que têm as costas mais largas e já é hábito desancar neles quando queremos desculpar os nossos próprios erros e desleixo.

Ora deixem-se disso meus senhores.

Já é tempo de darem mais valor à vossa vida do que aos Euros que amealham para a compra do bilhete de futebol, para irem beber uns copos no fim do serviço ou para as férias da famelga...

Protejam-se e exijam condições de segurança ao patronato e a vós próprios, olhem que o próximo pode ser um de vós.

Bom Português (1)

As fraudes passam a ser sansionadas

in SIC Online - 13.08.2005

Cantando o Porto I

Porto Porto

Vindo desde Vigo ao Porto
sem mala nem passaporte
o comboio era tão velho
que o fumo cheirava a morte

Pela manhã vi-me em S. Bento
tinha os olhos mal dormidos
estava na rua um silêncio
daqueles de abrir ouvidos

Quando de repente o estrondo
duma explosão fabulosa
me atirou quase por terra
à esquina da Carvalhosa

Vi um fumo no horizonte
tomei o trolley p’ra Baixa
desci depois do Palácio
e fui deparar com um graxa

-Olá, como está, disse eu
-Eu bem, e vocemecê
-De onde é que vem este fumo?
-Do inferno, então não vê?

E em jeito de despedida
disse “o meu nome é Duarte,
se vir por ai o diabo
diga que vem da minha parte”


Lá fui andando para o fumo
que agora era quase branco
quando dei com um surdo-mudo,
com um letreiro escrito “manco”

Perguntei-lhe pelo estrondo
respondeu “mudo não fala”
a viagem ia ser grande
decidi comprar uma mala

Entrei dentro dum quiosque
dirigi-me ao jornaleiro
mordeu-me e o sangue espirrou
nas noticias do Janeiro

A descer a Boavista
surgiram três atletas
um piloto, outro ciclista
e outro pintava as metas

Perguntei se o estrondo vinha
lá das bandas de Leixões
responderam “ao passarmos
só ouvimos ovações”

Vi ao olhar da janela
dois carros feitos num feixe
“se alguma janela aberta o incomoda
peça ao condutor que a feche”

Lá nos degraus do mercado
vi três senhoras em prantos
cobrindo o rosto com véus
e o corpo com negros mantos

Pensei, devem ter perdido
pai, marido ou companheiros
responderam “qual marido?
quem perdeu foi o Salgueiros”

Sem mais noticias do estrondo
fui comprar mais uma mala
não sabia o que pôr dentro
fui para o Douro lavá-la

Estava meio vazo de água
sem ninguém nas redondezas
mas assim que mergulhei
perdi-me nas perfundezas

Voltei à tona molhado
gritei “eh povo! eh povo!
aquela explosão tão grande
era da casca dum ovo!”

Lá de dentro veio um pinto
saiu e disse “sou eu”
“então eu que já nasci
e o galo ainda morreu?”

Dizem que os pintos não voam
este voou sobre as casas
os que não voam não querem
ou lhes cortaram as asas

Dizem que os pintos não voam
este voou sobre as casas
os que não voam não querem
ou lhes cortaram as asas

Sérgio Godinho Letra e música




Inferno

É com imagens terríveis, que somos confrontados diariamente pelos diferentes canais de televisão, com alguns (muitos) repórteres mais interessados em retratar a situação que está à vista, através de um discurso dramático que carrega muito nas cores negras do que vai sucedendo, em vez de apontar o dedo ao muito que não foi feito ou que está decididamente a favorecer a ocorrência de mais labaredas.

Infelizmente, um pouco por todo o lado, vimos casas construídas em zonas sem acessos ou com acessos que impossibilitam a chegada dos meios de socorro, mato seco rente a estradas e muros, zonas fabris coladas a zonas verdes, bocas de incêndio que não deitam água, gente a reclamar pela falta de ajuda mas que vai assistindo ao fogo de braços cruzados sobre o peito, autarcas que reclamam contra tudo e contra todos, esquecendo que não cumpriram os seus deveres ao licenciarem obras para zonas de risco sem cuidarem primeiro de acautelar a segurança dos mesmos, etc.

É dada voz e imagem, através de apontamentos ditos jornalísticos, a pessoas que não sabem minimamente do que estão a falar, a portugueses em choque que deambulam à procura de um qualquer milagre que os proteja, a irados personagens que, lógicamente, sentem que o seu incêndio carece de mais atenção do que o do vizinho, esquecendo esses mesmos apontamentos de referir factos que estão à vista de todos, como por exemplo armazenamentos de materiais altamente inflamáveis sem protecção adequada, oficinas de pirotecnia no meio de matas, serrações sem meios de combate a incêndios, inexistência de cisternas dotadas com equipamento mínimo para fornecimento de água e com pressão suficiente para combate a fogos, nas zonas mais afastadas dos postos de bombeiros, etc.

Ainda há dias, enquanto a SIC se referia um incêndio de grandes proporções na zona de Santa Maria da Feira, eu simultâneamente pasmava ao olhar por uma janela virada para V.N. de Gaia, vendo ao longe o estralejar de foguetes de uma qualquer festa que não olhava a temperaturas, nem a incêndios, para dar vazão a tal despropósito; num outro apontamento, vi uma boa vintena de matulões, que olhavam para o fogo que lavrava a quinze ou vinte metros de distância, junto à linha férrea, que assistiam sonolentamente e de sorriso nos lábios, enquanto um deles dizia a um repórter que estavam ali para defender o campo de futebol (pois claro!), que era em sintético e que não queriam que viesse a arder!

Claro, que combater o incêndio que estava ali ao pé já não era nada com estes ilustres personagens, pois era apenas verde que ardia e deveria ser pertença da REFER, e certamente cansava menos assistir do que intervir activamente; vi um irado presidente de Câmara que clamava contra o governo e contra a falta de meios aéreos, enquanto atrás de si, em plena zona industrial inserida em zona de denso arvoredo, numa serração, dois cavalheiros conversavam calmamente, olhando para as chamas que se aproximavam velozmente e que vieram mais tarde a atingir a dita serração (segundo parece), não me apercebendo de qualquer movimento que desse a impressão de que estavam a diligenciar no sentido de lhe fazer frente.

E que dizer dos srs. juízes que mandam para casa os incendiários confessos, em vez de os trancarem atrás das grades, possibilitando assim que eles continuem na sua tenebrosa faina, desmotivando os agentes policiais que os perseguem, pois estes vêm que o seu esforço, embora coroado de êxito, é desperdiçado por más decisões de gente irresponsável.

É este, de facto, o inferno em que vivemos, onde não existem campanhas de prevenção durante os nove meses que precedem a época de fogos florestais, mas que nos três meses habituais, dá azo à corja dos plumitivos opinadores de ocasião, e incipientes repórteres de momento, que, atarantados e impreparados, inflamam ainda mais o estado de espírito, quiçá na procura de um bode expiatório que lhes sirva para a noticiazinha, para no fim de Setembro se remeterem ao silêncio cúmplice que lhes proporcione mais três meses de forrobodó, no ano seguinte, alimentando-lhes o ego e os bolsos, quer pelo artiguinho escrito, a comparência em mesas-redondas, ou a receita provinda do trabalho de campo e extraordinário.

Não caberá ao cidadão, em primeiro lugar, acautelar o perímetro de que é proprietário, limpando-o de manta morta e criando uma zona de protecção adequada?

Não caberá a empresas e sociedades cumprirem os regulamentos sobre utilização e armazenamento de produtos inflamáveis, equipamento de segurança, limpeza de instalações, criando condições que respeitem a ligislação sobre higiene e segurança?

Não será a limpeza dos terrenos e ribeiras, dentro dos perímetros urbanos, da responsabilidade das autarquias?

Não é o licenciamento de obras responsabilidade das mesmas autarquias que deverão acautelar eficazmente pelo ordenamento do território que lhes compete administrar, indeferindo aquelas que não se conformem com o que se encontra determinado quanto a segurança contra fogos e fiscalizando as áreas à sua responsabilidade?

Não é ao governo que compete tratar das matas nacionais, ordenamento territorial, equipamento e prevenção de fogos, coordenação das entidades intervenientes, de modo a acautelar os despautérios que vão aparecendo um pouco por todo o lado?

Será que nos negamos a crescer, evoluir, prevenir, cuidar, preferindo o choradinho e a lamentação piegas, que anualmente nos martelam, sem que nada se transforme sensivelmente, preferindo apelar à caridade europeia?

Por mim, parece-me que já basta.

12 agosto, 2005

Mais uma luta

Foi criada a GARRA, que se destina a reabilitar o Ramal da Alfândega.

Podem ver mais pormenores aqui

Eu por mim apoio, espero que todos os que vivem por cá... também.


09 agosto, 2005

Estou a aprender

Já aprendi que:

- foi daqui que nasceu Portugal;
- somos tripeiros por tradição;
- temos pronúncia do Norte;
- dizem que somos bairristas;
- a Torre dos Clérigos é o nosso ex-libris;
- há eléctricos velhinhos com poucas linhas;
- ainda não é desta que a Avenida da Ponte se arranja;
- perdemos mais tempo a lutar uns contra os outros, do que na defesa da cidade;
- não pagamos portagens para atravessar o rio Douro;
- guardamos religiosamente o coração de um rei agradecido;
- chamam-nos Invicta e Sempre Leal por defendermos o que consideramos justo;
- por cá come-se quase sempre bem e em conta;
- há um aeroporto e um porto de mar fora da cidade.

Em contrapartida, não temos:

- políticos que nos valham;
- rios despoluídos;
- Centro Materno-Infantil;
- mecenato proporcional à fortuna possuída;
- uma rede de transportes modernos, rápidos e pontuais;
- actividade cultural suficiente;
- um canal televisivo que sirva a região;
- um jornal regional dinâmico;
- investidores em quantidade e com qualidade;
- população reivindicativa q.b..

Precisamos de ter urgentemente:

- mais e/ou melhores hospitais;
- escolas modernas e bem equipadas;
- uma aposta forte no turismo;
- mais e melhores museus;
- um aquário municipal;
- mais jardins e janelas mais floridas;
- uma baixa dinamizada e renovada;
- um presidente de Câmara sério, trabalhador, cordato e competente.

08 agosto, 2005

A cidade-mulher

...
uma cidade não se dá, come-se devagar como um nome estranho que resiste na boca, uma cidade não tem horas exactas, de repente estamos na sua hora absoluta, às vezes é só um minuto essa hora, mas invade-nos de uma história única, sem retrocesso, às vezes há uma gaivota sobre a nossa história: é o movimento da cidade que se cumpre, agudo, na violência circunscrita da agulha, na pureza de um sangue sacrificado para que nasça um corpo, às vezes um corpo nasce de um pouco de desejo, no final de uns passos, de um caminho que é um milagre cheio de cansaço, às vezes um corpo não suporta o milagre do seu aparecimento, o apogeu da redenção, por isso morre, por isso há sempre quem o veja morrer, ...

in Aqui neste Comboio - Rui Nunes

Hoje está mais fresco

Ontem, quando nasci, senti um calor escaldante, não sei do que seria mas, pelas conversas à minha volta, concluí que era por causa de uma coisa a que chamam fogos de verão e que eu ainda não sei ao certo a que se devem.

Hoje, lá arranjei coragem para abrir um olhito, e vi que nasci num local que deve ser belíssimo, pois logo de manhã cedo ouvi um som encantador, e alguém disse:

- Lá está o melro a cantar!


Claro que eu ainda não sei o que é um melro, mas deve ser uma coisa enorme e muito bela, pois a música que faz tem tanta força e é tão bonita que só uma criatura poderosa terá capacidade para o fazer.

Pela janela, consegui ver muito verde, um fio de água com fogachos prateados a correr lá ao fundo que se chama Douro, e por cima uma grande mancha azul clara que tudo ilumina, e a que dão o nome de céu.

Estou a aprender muito rápidamente, e embora ainda não tenha os olhos muito abertos, já sei que moro no Porto, onde o meu autor nasceu também, numa zona que já não existe e a que chamavam Largo da Cividade, um dos mais antigos lugares desta cidade que tanto ama.

Estou é um pouco confuso, pois as pessoas à minha volta parece que ralham todas umas com as outras e que não vivem felizes, muito embora vivam, segundo afirmam, numa das cidades mais lindas do Mundo!

Porque será?