27 agosto, 2005

Os copistas

Todos nós nos recordarmos de ouvir falar nesta profissão, e de a associar a monges a trabalhar de pé, em pergaminho amarelado, copiando laboriosamente os textos escritos ou simplesmente narrados, a quem tinha a capacidade de escrever.

Vimos já algumas belíssimas iluminuras, que nos foram deixadas por tais artífices, e que ainda hoje têm discípulos, que com muito maior facilidade as elaboram, fruto da tecnologia de que dispõem.

Mas essa antiga profissão, tem tido um ressurgimento espectacular nos últimos tempos, neste cantinho esquecido da Europa, muito embora esteja agora dotada de uma parafernália instrumental que é indispensável para o seu sucesso.

Os copistas estão aí e recomendam-se.

Basta abrir um canal de televisão e pegar no telecomando e zás... como que por milagre vemos que está a dar futebol na RTP, na SIC, na TVI, na RTPN, na RTPMemória, na RTPÁfrica e na SportTV!

Não, não é o mesmo jogo em todas, só que de repente resolveram-se copiar no tema, deixando-nos como alternativa o Canal 2.

Mas será só futebol? Vejam o caso dos telejornais... As notícias sucedem-se em catadupa com cada canal a mostar os mesmos fogos, dos mesmos locais, com as mesmas imagens, numa cópia fascinante e alucinante, que chega ao ponto de repetirem as reportagens/imagens durante dias seguidos. E se não são os fogos são os acidentes aéreos, as inundações, as misérias alheias exploradas exaustivamente até à náusea.

Ora, lá estão os copistas a trabalhar!

Se um tem uma telenovela, o outro de imediato apresenta outra no mesmo horário, no que é rápidamente copiado por um terceiro, que apresenta uma outra, numa luta desesperada para ver quem mais ganha no campeonato das audiências.

São os copistas que novamente voltam a atacar!

Mas até no que é mau se copiam, bastará olhar para a estafada repetição de séries e de filmes, e até de entrevistas, que se não atentarmos à muito bem aconchegadinha indicação de que é uma repetição, dá-nos a sensação estranha de estarmos fora do tempo.

Mas olhemos para os jornais e revistas e veremos que o panorama é o mesmo, as mesmas notícias, as mesmas abordagens, os mesmos temas, que mais parece que se combinaram uns com os outros para falar do mesmo.

E nos livros?

Se o Joaquim escreve sobre uma aventura em Saturno, a Antónia vai e fala numa na Lua, e o Joaquim disserta sobre uma expedição a Antares!

E que dizer desta nova revolução na escrita, em que todos escrevem um livro! Desde o Tino de Rans à Margarida Rebelo Pinto, há de tudo.

De vez em quando, aparece alguém de qualidade, que ao ler algumas coisas que se publicam, ganha coragem e aparece, fazendo-me acreditar que ainda não apodrecemos de todo!

Qualidade, diversidade, alternativa séria, parece que são coisas que não entram no actual panorama nacional de informação e/ou entretenimento.

Porque será?

Será da falta de visão dos editores, da miopia dos comentadores, da falta de cultura dos compradores?

Tenho cá para mim, que é apenas fruto da indiferença da classe priveligiada pela legião dos que afinal, apenas sonham em vir a ser como eles.

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