08 agosto, 2005

A cidade-mulher

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uma cidade não se dá, come-se devagar como um nome estranho que resiste na boca, uma cidade não tem horas exactas, de repente estamos na sua hora absoluta, às vezes é só um minuto essa hora, mas invade-nos de uma história única, sem retrocesso, às vezes há uma gaivota sobre a nossa história: é o movimento da cidade que se cumpre, agudo, na violência circunscrita da agulha, na pureza de um sangue sacrificado para que nasça um corpo, às vezes um corpo nasce de um pouco de desejo, no final de uns passos, de um caminho que é um milagre cheio de cansaço, às vezes um corpo não suporta o milagre do seu aparecimento, o apogeu da redenção, por isso morre, por isso há sempre quem o veja morrer, ...

in Aqui neste Comboio - Rui Nunes

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