12 setembro, 2005

Caça às bruxas

De repente, como se este País tivesse nascido ontem, alguém se lembra que os políticos poderão ser corruptos e vai daí inicia uma caça às bruxas.

Os ingredientes estão à mão, pois o País está desmotivado e triste, os incêndios acabaram, o Katrina é chão que já não dá muitas uvas, e para o vulgo que adora espiolhar a casa do próximo, é fácil de aderir a este tipo de iniciativas, onde o que interessa é descobrir algumas carecas, tentando entretanto encobrir muitas mais.

A partir de um discurso amargo de alguém que, sendo político, está ressabiado com os seus pares, um 'blog' avança com o convite à denúncia privada e anónima, para o seu endereço particular, com o fim de eleborar uma listagem a divulgar, de pessoas que estejam na política e que tenham parentes a praticar a mesma actividade!!!!

E avança com exemplos:

um líder de uma distrital cujo filho seja deputado. Um governador civil cujo filho faça parte dos órgãos de um partido. Um presidente da câmara cuja mulher seja ministra

como se, apenas por motivo de parentesco, se pudesse restringir a actividade política a alguém que se comporte dignamente no seu cargo.

Mas como viu que alguns caíram no isco, logo clarificou que só interessariam casos a partir de 2000, como se antes dessa data tudo fosse de uma limpidez tipo Tide, e de uma honestidade que empenhasse as suas barbas, como o saudoso João de Castro, num período em que a moda é o escanhoado bem feitinho ou as barbas com apenas três dias.

Mas eis que chega à praça o JPP e anuncia que o rei vai nu, mas que se lhe pousarem em cima uns ademanes, tal listagem, limitadinha e só englobando gente do PS ou do PSD, poderia servir para mostrar isto e mais aquilo...

Nunca esperei ver o ilustrado JPP, que tão bem alinda o seu ABRUPTO, a retornar às origens da denunciazinha soez e grosseira do seu passado revolucionário, mas a nódoa cai quando menos se espera.

Por este tipo de alarvidades, vindo de quadrantes que deviam pensar melhor no que fomentam, é que a democracia perde em clareza.

Não se pede à justiça que investigue, não se recorre aos poderes instituídos reclamando limpidez e transparência na coisa pública, não, prefere-se a intrigazinha de muro de quintal, o diz-que-diz das coscuvilheiras, as listagens a circular em ambientes seleccionados.

Eu dou voltas à cabeça e interrogo-me!

Para que servirá uma base de dados que me diga que o Soares pai, está na política com o Soares filho, e que ambos desempenham, desempenharam e possívelmente poderão desempenhar funções na área do poder?

Que contribuirá para a limpidez da coisa pública, saber que o deputado X, tem um filho Y que faz parte da concelhia Z, e é presidente da Junta de Alqueires de Baixo?

E que dizer então, dos que não chegam a deputados, nem às Europas, porque esses lugares estão preenchidos desde há muito pelos que se eternizam no poder e dos quais JPP é um muito notável caso.

E porquê só os políticos? E os gestores que são nomeados sem saberem ler nem escrever, e que não tem cartãozinho partidário, nem são familiares de ninguém, não vão para a lista? E os advogados que têm escritório sonante e ganham balúrdios à custa de pareceres que dão aos governos e não têm cargos partidários? E que dizer dos independentes que aparecem a fazer perninhas como consultores, para amealhar mais uns cobres a coberto de amizades esquisitas? Também ficam de fora?

Ora, vamos lá a ver se ganhamos juízo, e nos deixamos de perseguições ou aquisições encapotadas e que não sabemos para que servem, e nos empenhamos em pedir maior transparência.

E já agora, que o JPP apresente medidas de combate à fraude e à corrupção, e que o PG as divulgue.


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