Nos últimos dias, quer nos noticiários, quer na 'blogosfera', temos visto e ouvido coisas que à partida nunca pensamos que iriam acontecer na nação mais rica do Mundo.
Talvez por há muito sempre termos olhado para os USA como chapéu de chuva, ou parente abastado, a quem recorríamos sempre que em casa nos surgia um problema de difícil resolução.
Sempre nos habituamos a vermos nos americanos os dadores e nunca os pedintes, por isso, o murro no estômago que todos nós sentimos ao vermos e lermos a devastação que por lá grassa.
Tirando os indefectíveis prós e contras, há uma imensa multidão no meio, que se sente mais insegura ao constatar que, afinal, nos USA também acontecem casos de desleixo e incúria, próprios de país em vias de desenvolvimento ou mesmo de terceiro mundo, do mesmo modo que acontecem nos seus próprios países.
Já em 2001, na sequela do 11 de Novembro, se verificou que os serviços não funcionaram de acordo com os protocolos existentes, que espaço aéreo que deveria estar permanentemente vigiado o não estava, que as autoridades foram lentas a reagir ou que as torres não estavam construídas para sobreviver a um impacto deste tipo mas, dada a dimensão da ocorrência ficaram minimizadas as insuficiências detectadas e os culpados não viram castigo, ficando o terrorismo como culpado de todos os males.
Depois disso, e um pouco por todo o lado, fomos assistindo ao desnorte de alguns serviços americanos, que culminou com a famosa declaração e provas da existência de arsenal bélico com armas de destruição massiva, nas mãos de um ditador alimentado à mão por diversos governos democráticos, e invasão de um país em nome dos valores da democracia e liberdade, que se arrasta há mais de dois anos com mais de vinte mil mortos, entre os beligerantes e população civil.
Desta vez, foi um furacão, que foi seguido pelos serviços governamentais segundo a segundo, e que depois de se abater sob a Florida, seguiu para lá do Golfo do México, invadindo a Louisiana, Mississipi, Alabama e Georgia, sem que os responsáveis tomassem medidas atempadamente, de molde a minimizarem as baixas entre a população e a falta de assistência global que por eles foi sentida.
O choque, que hoje todos sentimos, não vai passar tão depressa, pois estranhamos que uma sociedade que é capaz de montar um hospital de campanha completamente apetrechado,com mais de duzentas camas, em menos de 48 horas, a muitos milhares de Km de casa, e no meio de ambientes hostis, que tanto põe um homem na Lua como ultrapassa corajosamente situações como a da Apolo XIII, é incompetente em socorrer as vitímas no seu próprio País!
Por isso, é que ficamos com mais medo, pois essas insuficiências poderão um dia ter consequências que podem afectar equilíbrios delicados - os mais velhos ainda se lembrarão da crise dos mísseis em Cuba - agora que a China se levanta a Oriente, o Brasil se apresta a entrar na era atómica, a Coreia e o Irão avançam no seu programa nuclear e que o terrorismo acede a armas cada vez mais sofisticadas fruto do colapso súbito da Cortina de Ferro.
Numa altura de equilíbrios cada vez mais instáveis, este Katrina vaio alertar para insuficiências que a América escondia muito bem, debaixo do tapete do deslumbrantemente propagandeado 'american way of life'.
Os amigos do povo americano, em vez de lhes arranjarem desculpas, melhor seria que lhes chamassem a atenção para os defeitos que por lá se encontram.
É o que eu estou a fazer.
Sem comentários:
Enviar um comentário