A televisão de serviço público, nos últimos tempos, tem tentado captar o público com concursos de matriz cultural, quiçá na esperança de que os portugueses abandonem as telenovelas ou os programas rascas que à mesma hora são passados noutros canais, contribuindo assim, para um elevar da fasquia dos conhecimentos gerais.
Infelizmente, creio que o objectivo não tem sido conseguido, pois pela amostragem, parece que a ganância de protagonismo ou de lucro fácil, tem permitido ver pessoas que se atiram para aqueles concursos sem o mínimo de conhecimentos, mau grado as muitas licenciaturas, mestrados e afins de que se dizem possuidores, o que nos vai dando um panorama do quanto vai mal a nossa educação, e quão baixo anda o amor-próprio, para não falar na falta de pudor de alguns que por lá exibem a sua pequena bolsa de conhecimentos de ordem geral.
Ver licenciados, mestres e doutores, a não identificarem os autores de títulos tão conhecidos como a Cidade e as Serras, Viagens na Minha Terra, O Bobo, As Pupilas do Sr. Reitor ou Os Bichos, a não conseguirem localizar o mar Negro, a cordilheira dos Himalaias, a nascente do Mondego, ou o rio que banha Vila do Conde, que não sabem quem pintou o tecto da capela Sistina, a Última Ceia, Guernica ou A Ronda da Noite, que não sabem quem foi Niemeyer, Alvar Aalto, Frank Lloyd Wright, Gaudi ou Fernando Távora, que nada lhes diz o nome de Benvenuto Cellini, Auguste Rodin, Henry Moore, Soares dos Reis ou Barata Feyo, que desconhecem quem compôs a Pastoral, As Bodas de Fígaro, a Aïda, As Quatro Estações ou a Abertura 1812, onde ocorreu e quem foram os intervenientes da Guerra da Secessão, da Guerra da Indochina, da Guerra dos Cem Anos ou até da Batalha de Toro, é confrangedor e envergonha-nos até à medula.
Mas é vê-los a responder rápida e certeiramente, quando lhes é perguntado em que ano é que o Benfica perdeu com o Manchester, quem é que interpretou a personagem de Gabriela na telenovela vinda do livro do Jorge Amado, como se chamam os personagens da Conversa da Treta, quem é que se transferiu para o Sporting na última temporada, ou quem é o Mourinho, o que ainda é mais triste, pois recorda-nos que, neste País, o acessório vem sempre à frente do essencial.
Por isso, talvez não consigamos sair deste estado cataléptico em que caímos, depois do discurso da tanga, que já passou pela fase curta mas humorística da recuperação já aí vem, para acabar num monumental apertar de cinto e das reclamações do peixe mais gordo.
Espero que o Jorge Gabriel comece a suavizar as perguntas, pois se não o fizer, desconfio que ninguém neste século abre a porta do cofre, que guarda umas dezenas de milhar de euros no seu interior à espera de premiar quem saiba pelo menos alguma coisinha.
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