04 setembro, 2005

A democracia tem destas coisas

Opinião, DN, Domingo, preparo-me para ler alguma coisa interessante e deparo com um tal jmportugal@hotmail.com a insultar o Mário Soares!

Pelo porte que a fotografia apresenta, parece homem disposto à batalha, olhar sisudo, peito para fora, enfim... promete!

Logo de início, diz-nos, a nós, leitores do DN, que somos uma cambada de inocentes, pois afinal o Mário Soares não é um democrata como por aí se apregoa, pois a sua conduta tem provado exactamente o contrário, ponto(final e parágafo)!

Depois fala no Ultramar (?) português, que eu pensava que era coisa que já não existia, ou então o homem estaria a falar apenas na Madeira e os Açores...ahn?

Ah! está bem, as Farilhões e a Berlenga porque não!

Mas não, era às antigas províncias ultramarinas a que se referia, e acusa de caneta na mão, que o Soares tinha aquele caldinho todo preparado, nós é que fomos todos enganados!!!

Continua a diatribe, a culmina com a afirmação que tudo o que se passou na descolonização é da enorme responsabilidade de uma pessoa imputável há 81 anos e que dá pelo nome de Mário Soares.!!

Concluí de imediato que o senhor não deveria ser, nem professor de Direito, nem Matemático, pois todos sabemos que a imputabilidade não começa no nascimento e que o Mário Soares, só há pouco, completou as suas 81 radiosas Primaveras.

Não satisfeito, acusa-o ainda de nos ter obrigado a entrar na CEE contra tudo e contra todos, e que o que ele teria feito melhor era esperar por melhores dias, até que alguém mais tarde solicitasse essa entrada, que se calhar o opinador caucionaria, com todo o seu presumível conhecimento sobre a coisa.

Mas, como o senhor pensa que somos todos uns tapados, enganados pelo Soares & Ca., afirma ainda que não foi nada o Soares que se atravessou à frente dos totalitarismos de esquerda, mas sim o PC que o rejeitou!!!!

Mas o incrível personagem não desanima, e com uma curiosa interpretação da história recente pejada de apontamentos avulsos, que demagógica e inconsequentemente atira para o papel sem estabelecer nexo de causa efeito ou sequer relacionar com o período em que se desenrolaram, lembra-nos que o Soares é o demo em figura de gente, terminando com um insultuoso desapareça, que lhe deveria ser retribuído vezes mil, só pela desfaçatez que teve em vir a público com tal opinião, esquecendo que no tempo da outra senhora - que ele certamente não combateu - lhe daria direito a estadia paga pelo estado em colónia de férias especial.

Onde se terá escondido este curioso exemplar até ao presente, gostava eu de saber, pois é nome que tem andado arredado das lides democráticas desde o 25 de Abril, pelo menos dos jornais de circulação diária.

P.S.: Deste escrito dei conhecimento ao senhor, pois entendo que também deverá ler a minha opinião, embora não tenha de pagar por ela.


5 comentários:

Anónimo disse...

Teófilo, é impressionante, consegui escrever 50 linhas e nem uma única resposta, ou contra argumentação, consegui dar. Eu sei que foi ensinado a gostar deste personagem. Sei também que pouco sabe dele, alem dos famosos cliches de “democrata”, “visionário”, “estadista” e uma pessoa extremamente “inteligente” e “culta”. Mas porque e que quando se fazem acusações concretas você não consegue responder? Vem com as mesmas conversas essas sim do “tempo da outra” senhora com ataques ao “fascismo”(esse sim que nunca existiu) com lembranças do tarrafal (já agora uma curiosidade que não lhe deve dizer nada, sabia que o tarrafal foi reaberto pelos “revolucionários libertadores”? Claro que não sabia….é como aquela mentira que cuba e a Coreia não são democracias....). Responda aos argumentos ditos, se não sabe, não vá pelos outros, investigue, aprofunde. Já todos sabemos das suas inclinações. Mas isso não é, necessariamente, um mal crónico. Já muitos dos seus camaradas o conseguiram fazer. Responda aos factos com argumentos sobre esses assuntos e não invoque o já invocou dezenas de vezes. Esses ataques pessoais, muito a quente e sentimentais, pouco dignificam, também, a sua resposta. Brilhante, corajoso e intelectualmente honesto artigo de João de Mendia. Pena que as respostas não sigam o mesmo tom…

Teófilo M. disse...

Caro gpn,

para além de não ter sido ensinado a gostar, pois não fui amestrado por ninguém, não gastei tempo em desmontar as "verdades" que jmportugal@hotmail.com, pois no seu artigo não vi um único facto concreto, apenas li uma data de acusações sem fundamento nenhum.

Sobre o 'fascismo' que nunca existiu, recomendo-lhe algumas leituras:

PINTO, António Costa- Ideologia, elites e movimentos fascistas em Portugal: 1914-1945. Lisboa: Editorial Estampa, 1994.

Cabral, Manuel Villaverde “O Fascismo Português numa Perspectiva Comparada”, Colóquio sobre o fascismo em Portugal, A Regra do Jogo, Lisboa.

para além de ter de arranjar nova filosofia política onde possamos enquadrar o salazarismo ou o franquismo.

Quanto ao Tarrafal, conheço um hotel com o mesmo nome, e um aldeamento turístico. Sei que há por lá intenções de investir em apartamentos para os mesmos fins, e que tem pequenos estabelecimentos que servem os turistas internos.

Já agora, gostava de ver documentada a reabertura do antigo campo do Tarrafal na actualidade e destinada ao serviço a que estava destinado, pois muito me surpreenderia.

Quanto às minhas inclinações, deve saber bastante pouco pelo que acabou de escrever. Os meus camaradas foram os da tropa, com quem habitualmente convivo uma vez por ano, ou quando a ocasião se propicia.

Factos, para mim, são coisas sérias, documentadas, escritas por pessoas que não estão cegas por ideologias, ou que continuam a sonhar com o D. Sebastião salvador da Pátria.

Ataques pessoais? A quem? A um endereço de hotmail? A alguém que não escreve um único facto, e insulta outro, num jornal público, ciente de que a democracia é para isto que serve?

Se acha o artigo, conhece o seu autor - eu não conheço, nem tampouco li algo por ele publicado em livro de história ou ensaio político - e entende que é brilhante, corajoso e intelectualmente honesto... que dizer!

A cada um o seu pensamento, é livre felizmente, e depois do 25 de Abril pode-se escrevê-lo em qualquer lado.

Graças aos capitães, ao Mário, ao Cunhal, ao Sá-Carneiro, ao Freitas, e a tabtos outros que contribuiram e continuam a contribuir para o aprofundamento da democracia.

Também não me lembra de ter alguma vez lido qualquer coisa de João Mendia contra o salazarismo, mas posso estar enganado, ou será apenas falta de informação, ainda se fosse Heredia.

Cumprimentos

Teofilo M.

P.S.:

Anónimo disse...

Caro Teófilo,

Antes de mais, obrigado pela sua resposta.
Começando por partes, é verdade que o fascismo em Portugal nunca existiu. Mesmo em um dos livros que, simpaticamente, me recomenda (PINTO, António Costa- Ideologia, elites e movimentos fascistas em Portugal: 1914-1945) é feita uma comparação entre o fascismo e o Salazarismo , se na realidade fossem a mesma coisa não se comparava. ACP fala mesmo do “pai” do fascismo português, o Rolão Preto, que a maioria dos Portugueses, tão cegos pelo fascismo nem conhecem. Esse mesmo RP nunca apoiou Salazar, sendo um dos seus adversários e críticos; não entendo também porque teria que criar uma nova ideologia politica. O Salazarismo já é uma ideologia política (http://www.iscsp.utl.pt/~cepp/indexfro1.php3?http://www.iscsp.utl.pt/~cepp/regimes_politicos/estado_novo.htm) aceite por todos, ou quase. Entendo o interesse em fazer com que o Salazarismo passe para fascismo, mas interesses não mudam factos.

Em relação a João de Mendia, não me merece muitos comentários a sua apreciação. Não é por não se conhecer um historiador ou comentador histórico-politico, que faz dele um melhor/pior ou mais ou menos credível. Só uns “pequenos” factos, se mérito não tivesse nem escreveria no DN, nem era convidado para um evento para falar de descolonização (http://www.ciari.org/quemsomos/brochura.pdf pag 4), e muito menos escreveria “PADRÕES DA MEMÓRIA - Da Metrópole às Anharas Angolanas - Lisboa, Império, 1998”, fora outras muitas obras e ensaios Pode-se portanto assumir que sabe alguma, pouca na sua opinião, do que fala. Se procurar um pouco mais, vai ver que encontra mais informação sobre este comentador. Assim, os seus comentário sobre criticas feitas, ou não, ao Dr. António Salazar são, portanto, injustificados e não fundamentados.

Em relação a questão do Tarrafal alem da sua ironia, que demonstra bem o “campo de extermínio” que foi, posso-lhe passar um livro do General Silvino Silvério Marques ("Marcello Caetano, Angola eo 25 de Abril") – não tenho a certeza que foi este livro porque posso estar a confundir com outro CARDOSO, Silva- Angola, anatomia de uma tragédia, por esta falta de memoria peço-lhe desculpa mas não estou em Portugal para poder confirmar.

Eu sei que nos devíamos muito do tema, e por isso tenho pena. Não vi, mais uma vez alguma resposta as criticas que foram feitas ao sr. Soares. Só ouço os mesmos argumentos de “Pai da Liberdade” e “lutar anti-fascista” como se isso fosse o garante de um bom presidente ou estadista, ou, mesmo, politico. Se assim é porque é que muita gente ainda vota no PCP e no BE, partidos “assumidamente” anti-democraticos. João de Mendia tem toda a razão quando diz, Soares Desapareça! E melhor, consegue fundamentar.

Melhores Cumprimentos

Gonçalo

Pedro Sá disse...

Meu caro Teófilo,

João de Mendia antes de escrever no DN já escrevia para o Diário Digital. Foi Luís Delgado quem o levou para lá.

E quando fala do salazarismo é para o elogiar. Sim, é reaccionário até à última, e já o li a defender que Portugal deveria ter mantido a posse dos actuais PALOP.

Anónimo disse...

Teófilo M, ou mais um lobotomizado pela máquina de propaganda do regime abrileiro. Mário Soares sempre poderia processar judicialmente João de Mendia pelas acusações que este último lhe faz no artigo. Não o fez. Porquê? Porque ´
e um democrata impoluto que aguenta bravamente a calúnia ou porque tem medo de ser desmascarado em público.

Braga N.