13 setembro, 2005

Humor aborrecido

Sempre que vejo um humorista a dizer que é difícil fazer humor, digo com os meus botões, lá está mais um que só trabalha e não lê jornais, pois bastaria uma vista de olhos às colunas de opinião dos jornais ou às mesas-redondas pré ou pós eleitorais, para recolher matéria de sobra para vários programas.

Então não é cómico, ver uma jornalista escrever em letra de forma, que o Primeiro-Ministro e a Ministra da educação andam excitados com a introdução da aprendizagem da língua inglesa pelos alunos dos 3º e 4º ano do básico, para logo lembrar que o governo que acabou de gastar 20 milhões de Euros num projecto que já cobre 87% das escolas, não está a fazer o mesmo em relação ao desporto escolar, nem ao aprendizado dos números ou da língua pátria, como se o PM tivesse ali à beira, um saco azul cheio de euros para distribuir, pois o País vive uma desafogada situação financeira, e que se calhar era melhor por os meninos a fazer educação física e a melhor aprender matemática e português!

Não lhe interessa que o problema do português e a matemática estejam já a ser tratados por via de um reforço na formação dos professores, e que o desporto escolar, embora importante ainda não é a prioridade, apenas lhe apeteceu deitar uma pontinha de veneno, e como sabe que há quem facilmente se encandeie com a prosa fácil aí vai.

Querem mais um exemplo?

Um senhor jornalista, depois de ter lido que a Autoridade para a Concorrência multou a Ordem dos Médicos Dentistas (OMD) por ter uma tabela de preços mínimos, o que contraria todas as regras da livre concorrência, e depois de a própria OMD dizer ao DN que não existiam as ditas tabelas desde 2001, muito embora, conforme se pode ler no DN de hoje Entre 2002 e 2004 o organismo representante da classe condenou cerca de duas dezenas de profissionais por cobrarem preços mais baixos aos seus utentes do que aqueles que constavam da tabela. A última condenação data de Agosto de 2004 e, tal como as restantes, foi publicada no boletim do organismo., expende extenso arrazoado defendendo aqueles preços mínimos, uma vez que nos consultórios de Medicina Dentária os riscos de infecção cruzada são altos. Por isso, é necessário garantir que não haja contaminação do instrumental utilizado, que seja usada, sempre que possível, material descartável e que sejam aplicados produtos e materiais da mais alta qualidade (naturalmente muito dispendiosos).!

Será que nos consultórios de ginecologia, proctologia, otorrinolaringologia, gastrenterologia, ou nos simples postos de enfermagem, não se usa material descartável, não se esterilizam os instrumentos, não se usam máscaras ou luvas, ou a assepsia é encarada levianamente e é de borla?

E não contente com a quantidade de disparates que espeta no artigo, faz a pergunta sacramenta:l Será que a Saúde em Portugal é tratada como comércio?

Não acham isto delirantemente cómico?! Este jornalista estará a soldo de quem ou de quê e tenta proteger quem?

É esta maneira humorística de fazer jornais que às vezes me aborrece!

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