19 setembro, 2005

A sublime tentação

Um dos mais prolíficos comentadores do nosso Portugal, de vasta cultura e créditos bem firmados, em prosa mordaz em jornal que paguei, brindou-me com uma historieta sobre um jantar com um amigo, que pelos vistos foi mau, e onde se teriam discutido as vicissitudes em que as saladas caprese se metem, quando são servidas nos luxuosos hoteis e restaurantes de Lisboa e Porto, tendo-se reclamado da verdura dos tomates e da industrialização do mozzarella decidindo-se et pour cause que o turismo estaria perdido!

Se estas duas boas almas, se tivessem prosaicamente satisfeito com entradas mais corriqueiras, ficando-se apenas por algumas saborosas azeitonas nacionais, que poderiam ser, por exemplo, de Elvas, a acompanhar umas pataniscas de bacalhau lourinhas e sápidas, ou apenas uma orelha de porco de coentrada, estariam certamente com disposição diversa e teriam indubitavelmente a conta bancária mais anafada.

Como falavam de sabores mediterrânicos, divergiram para Espanha, que adoram como não poderia deixar de ser, pois o que não mata... engorda, lamentando-se um dos convivas, que em Espanha não existia uma Amazon, loja que pelos vistos só deveria conhecer de nome, pois com o desenrolar da croniqueta, concluiu-se que só agora, nos finais deste ano da Graça de Deus, é que o tal professor-comentador-cronista, se decidiu a abrir uma conta on-line em tal quitanda!

Mas, logo ali foi informado, de que sim, que havia uma Amazon espanhola (!), mas no El Corte Inglés, o que o teria excitado tanto, que mal chegado ao aconchego do lar, abriu o computador (não esclareceu se foi a martelo ou com chave de fendas) e zás... lá deu com o 'site' onde se anichava a dita.

Claro, que o crítico saíu ao terreiro, e em vez de criticar o amigo que lhe forneceu tão errada informação, optou por seguir outro caminho, mais escorregadio e perigoso, e logo se começa a interrogar sobre o motivo de uma loja espanhola, num endereço espanhol, lhe perguntar pelo segundo apelido, como se o nome do próprio articulista não tivesse o dito, ou em Espanha fosse comum a não existência desse segundo apelido, para continuar a desancar na empresa espanhola que lhe pergunta sobre calles, carreteras ou urbanización, não entendendo os critérios de segurança do 'site', estranhando até que lhe pedissem para utilizar uma contraseña e a respectiva confirmação !!!

Então, quereria o senhor, que uma empresa espanhola, deveria ter-lhe perguntado por ruas avenidas e becos, logins e passwords, ou outras coisas tais, em língua lusa ou na da pérfida Albion?!

Claro, que tão difíceis operações. o levaram a asneirar, não uma, mas duas ou três vezes, como confessa, o que sendo identificador de uma certa humildade, é uma reconhecida tendência para a dificuldade de concentração, e para a asneira.

Talvez por isso, e dada a diferença de idades, não apoia Soares... desta vez.

Mas o mais grave, é que o nosso comentador-professor-escritor, dadas as evidentes dificuldades que teve com a língua dos nossos vizinhos, decidiu ir fazer a sua nóvel inscrição na Amazon.uk, o que fez sem dificuldades de maior, segundo reza a sua crónica, mas aleivosamente diz que só deu um nome, um apelido, a morada e o número do cartão de crédito, omitindo que lhe foram perguntadas as mesmas coisas que na hipotética Amazon espanhola que nunca deixou de ser apenas o El Corte Inglés, só porque estariam no idioma dos camones ou lhe foram formuladas de maneira diferente.

Claro que isso lhe bastou para, logo ali, proclamar do alto da sua sapiência, que só depois de cruzar os Pirenéus é que se entra na Europa!!!!

A tentação de mal-dizer é, de facto, sublime!


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