Há dias, folheando O Público, esbarrei nesta notícia:
O título era apelativo, pois indiciava que alguém teria tido uma ideia que poderia poupar dinheiro ao estado e que, simultaneamente, poderia trazer mais negócio e menos importações.
E apressei-me a ler o palpita que uma tal Beatriz Pereira, que era crismada de investigadora na Universidade do Minho, dava às autarquias nacionais.
Logo abri a boca de espanto, pois a senhor propagandeava que deveriam ser distribuídas bicicletas aos miúdos que frequentam o ensino entre o 1º e o 9º ano, para utilizar nas suas deslocações de casa para a escola e vice-versa, poupando assim nos custos do transporte subsidiado.
Certamente que a senhora não tem filhos em idade escolar, não faz a mínima ideia do que é andar de bicicleta no meio do caótico trânsito das grandes e médias cidades, como será andar nas estradas municipais e nacionais ou nas distâncias envolvidas.
Mais estranho ainda, é ver uma jornalista que espeta com a notícia no jornal, se preocupar apenas com os custos do equipamento necessário superficialmente, ir pedir a opinião a outra senhora que seria parte interessada no negócio, aceitar as tolas explicações da sra. investigadora.
Curioso o facto de nas caixas de comentários haver uma data de pessoas a achar muito bem e a passar por cima da segurança, do civismo exibido pelos cidadãos auto-transportados, de falta de infra-estruturas, etc.
Já alguém imaginou o que seria mandar um filho de seis ou dez anos para a escola de bicicleta, sózinho, no meio de uma cidade como Braga, Vila Real, Viana do Castelo ou Tomar?
E que tal imaginarmos os miúdos a pedalar à chuva e ao vento, distâncias que por vezes ultrapassam a meia dúzia de quilómetros, em duas ou quatro viagens diárias?
E as bicicletas teriam que especificações?
Guarda-lamas, luz frente e traseira, protetor de corrente, bagageira, sinalizações laterais.
E isso atiraria o seu custo para quanto? Cento e setenta ou duzentos euros?
E o equipamento para os utentes? Qual seria e quanto custaria?
Capacete, faixas refletoras e joelheiras/cotoveleiras.
E os que não soubessem andar de bicicleta ou não dominassem a técnica, iriam a pé, ou a sra. investigadora tem mais soluções?
Claro, que a sra. investigadora falou logo nos países onde isso acontece, não como obrigatório, mas por hábitos criados e infraestruturas adaptadas.
Pensou a sra. investigadora na morfologia do terreno, na ausência de ciclovias, na falta de preparação a nível escolar e pré-escolar, no trânsito, no civismo, na fiscalização, na realidade nacional.
Não!
A sra., limita-se a dizer que "Onde circula um automóvel pode circular uma mota ou uma bicicleta, basta haver uma cultura de respeito pelo outro" !!!
Mas a sra, saberá o que está a dizer ou está a gozar connosco apenas?
A sra. não lê jornais? Não conhece os indíces de sinistralidade nacionais? Não conhece o esado das nossas vias? Será a sra. deste País?
Poderia ter apresentado a ideia com a ponderação devida e os limites que a realidade impõe; aí eu ter-lhe-ía batiado palmas, agora tornar obrigatório algo que não o pode ser, é coisa de quem não tem os pés bem assentes no chão e daí por vezes o descrédito em que cai a investigação de qualidade.
Nem o jornalista, nem a investigadora prestaram um bom serviço à ideia.
Pode ser que alguém pegue nela a acarinhe e a torne exequível. Quem me dera!